Uma noite sem dormir reverte temporariamente os efeitos da depressão

Investigadores da Northwestern University fizeram uma descoberta surpreendente com potenciais implicações para o tratamento da depressão.

Os resultados de um novo estudo indicam que abdicar do sono durante uma única noite pode levar a uma rápida alívio dos sintomas depressivos.

Este efeito antidepressivo é atribuído a um aumento na libertação de dopamina e alterações na neuroplasticidade, particularmente no córtex pré-frontal, e pode persistir durante vários dias.

Segundo o estudo, publicado esta quinta-feira na revista científica Neuron, o estado de exaustão combinado com uma estranha euforia, frequentemente sentido após uma noite sem dormir, é causado por níveis aumentados de dopamina, que está associada a respostas de recompensa e prazer no cérebro.

Mingzheng Wu e Yevgenia Kozorovitskiy, autor principal e co-autora do estudo, realizaram experiências em ratos, tendo observado um aumento dos níveis de dopamina e plasticidade sináptica durante a privação de sono.

Os investigadores notam que, embora a perda crónica de sono seja conhecida por ser prejudicial, os efeitos da privação de sono a curto prazo são menos compreendidos.

Os resultados do estudo sugerem que esta perda temporária de sono induz um poderoso efeito antidepressivo e altera as ligações no cérebro de uma forma que permanece para além do período de insónia.

A privação de sono é frequentemente associada a distúrbios de humor, como a depressão, caracterizada por uma tristeza persistente e uma falta de interesse nas atividades diárias.

O estudo da Northwestern clarifica a forma como ocorrem as transições naturais nos estados de humor e pode contribuir para a compreensão de como os antidepressivos de ação rápida como a cetamina funcionam, apontando possivelmente para novos alvos no desenvolvimento de drogas antidepressivas.

A equipa de investigação alcançou a privação aguda de sono em ratos usando um método que os manteve acordados sem causar stress. Os ratos exibiram hiperatividade, agressividade e um comportamento sexual aumentado.

Quando analisando a atividade dos neurónios de dopamina, níveis de atividade mais altos foram observados durante a privação de sono. Focando-se no córtex pré-frontal do cérebro, a equipa descobriu que o silenciamento das respostas de dopamina nesta área eliminou os efeitos antidepressivos.

O impacto duradouro da privação de sono foi ligado à formação de protusões dendríticas no córtex pré-frontal. Alterar estas protusões reverteu os efeitos antidepressivos, confirmando que mudanças na plasticidade cerebral desempenham um papel crucial.

“A privação de sono pode ter sido uma vantagem evolutiva, proporcionando um estado de alerta e funcionamento aumentados em situações de perigo”, explica Yevgenia Kozorovitskiy à Earth.com.

Contudo, a investigadora chama a atenção para os riscos do uso da privação de sono como auto-tratamento para depressão, realçando a importância de um sono adequado e a natureza temporária deste efeito antidepressivo.

“O efeito da privação de sono como antidepressivo é temporário“, realça Kozorovitskiy. “Diria que é muito melhor em ir uma horas para o ginásio, ou fazer uma boa caminhada“.

ZAP //

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