Hussam Saraf é um migrante
Nas traseiras de uma casa suburbana de Shepparton, contra todas as probabilidades, nasceu um novo recorde mundial com entrada direta para o livro do Guiness: uma pequena árvore que no passado recente produziu nada mais nada menos que dez tipos diferentes de frutas, o que constitui um número inédito.
O feito, escreve o The Guardian, é o resultado de décadas de trabalho de Hussam Saraf, cujo esforço resultou também de um pequeno relvado num autêntico oásis tropical de árvores de fruta e de outras espécies nativas.
“O recorde anterior era de cinco frutos diferentes provenientes da mesma árvore, por isso dediquei-me a conseguir 10. Depois enviei a minha candidatura e fiquei à espera de ter uma resposta, mas acabaram a dizer-me que o pedido tinha sido rejeitado porque precisavam de cinco espécies diferentes de fruta, não de variedades”, explicou Hussam.
O recorde anterior pertencia há mais de duas décadas a Luis H Carrasco, do Chile, que conseguiu produzir damascos, cerejas, nectarinas, ameixas e pêssegos a partir da mesma árvore.
A candidatura inicial de Hussam incluía nectarinas brancas e amarelas, pêssegos brancos e amarelos, ameixas amarelas e de sangue, pêssegos, damascos, amêndoas e cerejas, o que perfaz cinco tipos de fruta e resultou num empate com Carrasco. “Eu argumentei, dizendo que ele tinha nectarias e pêssegos, o que eles contabilizaram como dois, quando devia ter sido apenas um. Eles concordaram e mudaram o recorde dele para quatro e cinco para mim”, explicou. “Eu disse ‘Ok’, estou feliz, é fantástico. Às vezes só é preciso ter uma pequena conversa.”
Desta forma, o recorde de Hussam foi possível graças à produção de ameixas, damascos, amêndoas, pêssegos e cerejas a partir da mesma árvore.
Ao Guinness World Record, o jardineiro explicou que a árvore tinha inerente uma mensagem de “coexistência pacífica”: as cores, as formas e as diferentes folhas e frutas nos ramos são uma metáfora de uma sociedade diversa, respeitosa e de aceitação.
Há cerca de cinco anos, Hussam também abriu o seu jardim ao público, tendo atraído desde então múltiplos visitantes que regularmente visitam o espaço com entusiasmo e pedem conselhos e recomendações para as suas próprias experiências – talvez no seguimento da aventura de Hussam, que descreve o projeto como “simples” e “complexo” simultaneamente.
A árvore que lhe valou o recorde começou por ser uma nectarina, que evoluiu e se expandiu através da junção dos ramos com os ramos de outras árvores. “Cada ramo é uma árvore própria por si só”, explicou o jardineiro que faz questão de oferecer as frutas que não consome a familiares, amigos ou vizinhos, para também ter a oportunidade de receber feedback sobre o sabor dos mesmos.
Dependendo da altura do ano, as frutas existentes no denso jardim das traseiras vai variando entre as mais exóticas e as mais tradicionais, como morangos. O espaço é descrito também pelo seu curador como uma “comunidade”. “Eu vejo estas árvores como a nossa comunidade multicultural de árvores, as culturas que temos aqui – religiões, tradições, todos se fundem. Eu vejo o meu trabalho multicultural e a jardinagem como um só.”, explica.
A história de Hussam pode bem estar na origem desta visão inclusiva que transporta para o seu jardim. Em 2009, chegou à Austrália vindo do Iraque, tendo a jardinagem feito parte de sua vida de forma regular durante o seu secundário. Nas férias escolares, era frequente passar meses na quinta do avô onde existiam várias árvores de frutos e onde a sua paixão pela jardinagem foi crescendo.
Desde que se mudou para a Austrália, Hussam tornou-se também um agente multicultural numa das principais escolas da cidade que o recebeu. Os alunos que o acompanham sabem do seu sucesso e fazem questão de o felicitarem pelas conquistas.
“Os miúdos ficam entusiasmados, eles seguem o projeto no Instagram… as gerações mais novas estão todas lá. Eu queria dar-lhes um exemplo para ambicionarem algo grande. Que não dissessem que algo é demasiado difícil, quis mostrar-lhes que se colocarem esforço e dedicação em algo e tiverem um objetivo podem fazê-lo. Que nunca digam ‘eu não consigo’”, refletiu.