Um planeta gigante semelhante a Júpiter foi observado ainda “no útero”

NASA / ESA / Joseph Olmsted

Ilustração de um exoplaneta maciço, recentemente formado, o AB Aurigae b.

Uma equipa de astrónomos da NASA observou um planeta enorme, com cerca de nove vezes a massa de Júpiter, numa fase bastante precoce da formação.

A descoberta de um planeta “ainda no útero”, como o descreveram os investigadores, desafia a compreensão atual da formação planetária.

Os cientistas utilizaram o Telescópio Subaru, localizado perto do cume de um vulcão inativo do Havai, e o Telescópio Espacial Hubble, em órbita para detetar e estudar o planeta,de acordo com a Reuters.

O planeta é um gigante gasoso, em órbita excecionalmente longe da sua jovem estrela hospedeira. Os gigantes gasosos são planetas como Júpiter e Saturno, compostos na sua maioria por hidrogénio e hélio, com gases que rodopiam em torno de um núcleo sólido mais pequeno.

“Pensamos que ainda é um período muito cedo do seu ‘nascimento'”, afirmou Thayne Currie, astrofísica do Telescópio Subaru e do Centro de Investigação da NASA-Ames.

“As evidências sugerem que esta é a fase mais precoce de formação alguma vez observada para um gigante do gás”, explicou Currie, também autora principal do estudo, publicado esta segunda-feira na revista Nature Astronomy,

Está incorporado num disco expansivo de gás e poeira, que envolve uma estrela chamada AB Aurigae, localizada a 508 anos-luz da Terra — a luz percorre, num ano, 9,5 triliões de km. Esta estrela teve um momento de fama quando a sua imagem apareceu numa cena do filme “Don’t Look Up”, de 2021.

Já foram identificados cerca de 5.000 exoplanetas, além do nosso sistema solar. Descoberto agora, o AB Aur b, está entre os maiores.

Aproxima-se do tamanho máximo para ser classificado como um planeta em vez de uma anã castanha, um corpo intermédio entre o planeta e a estrela. É aquecido por gás e poeira, que caem dentro dele.

Planetas em processo de formação — chamados protoplanetas — têm sido observados apenas em torno de uma outra estrela.

Quase todos os exoplanetas conhecidos têm órbitas em torno das suas estrelas, dentro da distância que separa o nosso sol e o seu planeta mais distante, Neptuno.

Mas este planeta orbita três vezes mais longe do que Neptuno do Sol, e 93 vezes a distância da Terra ao Sol. O seu nascimento parece estar a seguir um processo diferente do modelo padrão de formação planetária.

“O pensamento convencional é que a maioria — se não todos — os planetas se formam por lenta acumulação de sólidos sobre um núcleo rochoso, e que os gigantes de gás passam por esta fase antes que o núcleo sólido seja suficientemente maciço para começar a acumular gás”, realçou Olivier Guyon, astrónomo do Telescópio Subaru e da Universidade do Arizona, e co-autor do estudo.

Neste cenário, os protoplanetas no disco que rodeia uma jovem estrela crescem gradualmente de objetos sólidos do tamanho de uma pedra e, se este núcleo atingir várias vezes a massa da Terra, então começam a acumular gás do disco.

“Este processo não pode formar planetas gigantes a grande distância orbital, por isso esta descoberta desafia a nossa compreensão da formação do planeta”, disse Guyon.

Em vez disso, os investigadores acreditam que AB Aur b está a formar-se num cenário em que o disco à volta da estrela arrefece, e a gravidade faz com que se fragmente em um ou mais tufos maciços que se formam em planetas.

Há mais de uma forma de cozinhar um ovo“, disse Currie. “E aparentemente pode haver mais de uma forma de formar um planeta semelhante a Júpiter”.

A estrela AB Aurigae é cerca de 2,4 vezes mais maciça do que o nosso sol e quase 60 vezes mais brilhante.

Tem cerca de 2 milhões de anos, uma criança em anos estelares, e em comparação com cerca de 4,5 mil milhões de anos para o nosso sol “de meia-idade”.

O Sol, também no início da sua vida, foi rodeado por um disco que deu origem à Terra e aos outros planetas.

“Novas observações astronómicas desafiam continuamente as nossas teorias atuais, acabando por melhorar a nossa compreensão do universo“, notou Guyon. “A formação de um planeta é bastante complexa e confusa, com muitas surpresas ainda pela frente”, concluiu.

Alice Carqueja, ZAP //

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