Um dos primeiros governos centralizados caiu há mais de 5 mil anos — por vontade do povo

Glatz C, Del Bravo F, Chelazzi F, et al. / Antiquity

O sítio arqueológico de Shakhi Kora

A ascensão e queda de um dos primeiros regimes centralizados de sempre parece não ter sido feita de forma violenta. É essa história que conta o sítio de Shakhi Kora, no Iraque.

Em Shakhi Kora, sítio arqueológico na região do Curdistão iraquiano, as escavações levadas a cabo por arqueólogos permitiram obter novos conhecimentos sobre a origem e a evolução das primeiras instituições estatais, que datam do quarto milénio a.C., conta a LBV.

Uma equipa liderada pela professora Claudia Glatz, da Universidade de Glasgow publicou agora na Antiquity um estudo que toma nota da descoberta de um conjunto de estruturas institucionais que operaram por vários séculos no local.

Entre os objetos descobertos encontram-se vasos rudimentares utilizados para servir refeições comunitárias em grande escala, que serviam possivelmente como pagamento aos trabalhadores das instituições.

Análises de restos orgânicos e de esqueletos mostram que estas refeições consistiam em abundantes guisados de carne, reforçando a ideia de que as primeiras organizações estatais se baseavam, pelo menos em parte, na sua capacidade de distribuir alimentos e recursos à população. Mas as descobertas não se ficaram pelos hábitos quotidianos da população da época.

O que mais surpreendeu os arqueólogos foi o abandono deliberado das estruturas institucionais finais, há mais de 5 mil anos. Ao contrário da maioria das instituições políticas do mundo, a queda desta não se deveu a uma contestação violenta do regime. Pelo contrário.

Não há sinais de destruição violenta ou de stress ambiental, o que sugere que as comunidades locais escolheram conscientemente desmantelar este sistema centralizado de autoridade.

“Esta descoberta desafia a noção de que a evolução dos governos hierárquicos era um processo inevitável nas primeiras sociedades complexas. Pelo contrário, demonstra que as comunidades tinham a capacidade de resistir e rejeitar formas de organização centralizadas e hierárquicas quando estas se tornavam opressivas ou contrárias aos seus interesses”, comenta a investigadora.

ZAP //

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