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Descoberta a última refeição do Homem de Tollund, a múmia do pântano da Dinamarca

Sven Rosborn / Wikimedia

O Homem de Tollund foi enforcado e depositado na lama há 2.400 anos, mas de tão preservado apresenta até vestígios de barba

Uma equipa de investigadores recorreu a tecnologia de ponta para descobrir a última refeição do Homem de Tollund, uma múmia do pântano, da Dinamarca.

O Homem de Tollund é o cadáver de um homem naturalmente mumificado descoberto na Dinamarca em 6 de maio de 1950. O Homem de Tollund viveu no século IV a.C., foi enforcado, provavelmente como uma forma de um sacrifício, e atirado ao pântano.

Como consequência, o seu corpo foi preservado devido à camada de musgo, ausência de oxigénio e ação de compostos antimicrobianos. Múmias como esta já foram encontradas na Irlanda, Reino Unido, Alemanha, Holanda e principalmente na Dinamarca.

Só um número limitado de pântanos tem as condições necessárias para a preservação do tecido de mamíferos. A maioria está localizada em climas frios do norte da Europa.

Agora, uma equipa de investigadores estudou a última refeição do famoso Homem de Tollund, usando tecnologia de ponta, na esperança de aprender mais sobre a vida na Idade do Ferro na Dinamarca.

Quando os irmãos Viggo e Emil Hojgaard encontraram o Homem de Tollund em 1950, a cara do cadáver estava “tão fresca que eles só podiam supor que tinham tropeçado num assassinato recente”, escreve a Smithsonian Magazine.

Tal como acontece com outras múmias de pântano descobertas no norte da Europa, os arqueólogos continuaram a aplicar tecnologia cada vez mais sofisticada para descobrir mais sobre o Homem de Tollund, realça o portal Ancient-Origins.

No caso do Homem de Tollund, não foi apenas a sua cara, pele e cabelo que foram preservados — os seus intestinos também.

Saber qual foi a última refeição desta múmia não é apenas um fait divers mórbido. A análise pode fornecer detalhes sobre os rituais de sacrifício, dieta, saúde e higiene dos dinamarqueses da Idade do Ferro.

Na altura em que a múmia foi descoberta, os investigadores fizeram uma análise aos seus intestinos para perceber o que o homem tinha comido nas 12-24 horas anteriores à sua morte.

A equipa concluiu então que tinha comido uma papa feita de sementes de cevada, linho e plantas silvestres. No entanto, a tecnologia disponível não permitia estudar nenhum dos ingredientes menos óbvios ou quantificar a refeição.

A nova análise descobriu que peixe, talvez enguia, fez parte da sua última refeição. A “fragmentação dos cereais e outras sementes” também sugere que “estes tinham sido moídos antes de serem cozinhados”, enquanto restos de crosta de comida carbonizada descobertos no intestino sugerem que a papa foi cozinhada num recipiente de barro.

A equipa de investigadores também identificou restos de algas e sementes de plantas húmidas, o que pode significar que a papa foi feita com água de um lago, lagoa ou pântano.

O intestino do Homem de Tollund estava infetado com três tipos de parasita. Evidências de Trichuris trichiura e lombrigas foram vistas como um sinal de má higiene, uma vez que se espalham devido à contaminação de água e alimentos. A ténia pode ser evidência do consumo de carne crua ou mal cozida.

Os resultados do estudo foram publicados esta quarta-feira na revista científica Antiquity.

Daniel Costa, ZAP //

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