China. Uigures vivem num “cenário infernal distópico”, diz Amnistia Internacional

A Amnistia Internacional (AI) recolheu novas provas de abusos dos direitos humanos na região de Xinjiang, na China, que afirma se ter tornado num “cenário infernal distópico” para centenas de milhares de muçulmanos sujeitos a internamento em massa e tortura.

A organização de direitos humanos coletou mais de 50 novos relatos de uigures, cazaques e outras minorias étnicas predominantemente muçulmanas que afirmam ter sido submetidas a internamento em massa e tortura, noticiou na quinta-feira o Guardian.

Depoimentos de ex-reclusos incluídos num novo relatório divulgado na quinta-feira revelaram o uso de “cadeiras tigre” – cadeiras de aço com ferros e algemas que prendem o corpo em posições dolorosas – durante os interrogatórios.

O relatório também apontou para agressão física, privação de sono e sobrelotação nas esquadras de polícia. Muçulmanos uigures indicaram que foram encapuzados e acorrentados durante o interrogatório e a transferência para os campos, classificados pelo Governo como locais de reeducação.

Nos campos, os detidos revelaram que não tinham privacidade ou autonomia e enfrentavam punições severas. Nas primeiras semanas, eram forçados a ficar sentados ou ajoelhados na mesma posição durante horas, não tinham permissão para praticar o Islão, eram proibidos de usar a sua língua materna e forçados a frequentar aulas de mandarim e de propaganda do Partido Comunista Chinês.

Além de serem escoltados por guardas armados quando iam às cantinas, aulas ou interrogatórios, os detidos raramente saíam das suas celas ou tinham acesso a áreas externas e exercícios.

“As autoridades chinesas criaram um cenário infernal distópico numa escala impressionante” em Xinjiang, referiu Agnès Callamard, secretária-geral da AI. A organização pede que todos os campos na região sejam fechados e que a Organização das Nações Unidas (ONU) investigue esses crimes ao abrigo da lei internacional.

A China tem negado todas as acusações de irregularidades em Xinjiang, referindo que os campos foram projetados para oferecer aulas de chinês e apoio no trabalho, bem como para combater o extremismo religioso.

Este relatório aumenta a pressão sobre as autoridades chinesas, surgindo após parlamentares britânicos aprovarem uma moção na qual declararam que a China está a cometer genocídio contra os uigures e outras minorias em Xinjiang.

Taísa Pagno //

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