Estudo a taxistas de Londres. É o primeiro a examinar o planeamento mental humano num ambiente realista à escala de uma cidade.
Como os taxistas experientes de Londres planeiam antecipadamente os seus percursos?
Uma equipa internacional de cientistas, incluindo investigadores da Fundação Champalimaud, em Lisboa, analisou essa questão.
O estudo é o primeiro a examinar o planeamento mental humano num ambiente realista à escala de uma cidade.
Os taxistas de Londres já são conhecidos da ciência desde que, há 25 anos, se descobriu que o seu hipocampo, uma região do cérebro associada à memória e navegação, apresenta características distintas devido à intensa aprendizagem das ruas da cidade.
Agora, os investigadores concentraram-se na forma como estes profissionais organizam mentalmente a sua estratégia de condução.
Planeamento estratégico no meio do caos
O estudo envolveu 43 taxistas licenciados, que receberam pontos de partida e destinos em Londres.
A tarefa consistia em verbalizar, sem auxílio de mapas, a sequência de ruas e cruzamentos necessários para completar o trajeto.
Durante a experiência, os cientistas mediram dois tipos de tempo de resposta: o “tempo de reflexão offline” (antes da primeira nomeação de uma rua) e o “tempo online” (entre cada nomeação de ruas ou viragens).
Os resultados mostraram que os taxistas não pensam de forma linear, nomeando ruas na ordem em que as atravessariam.
Em vez disso, primeiro identificam mentalmente as junções mais críticas do trajeto antes de preencherem os detalhes.
Esse processo, denominado “pré-armazenamento em cache não-local de junções críticas”, destaca a forma como priorizam elementos-chave da cidade antes de começar a nomear as ruas.
Cérebro vs. IA
Os investigadores também compararam a forma como os taxistas planeiam as rotas com os métodos utilizados por algoritmos de inteligência artificial (IA).
“Os algoritmos de IA não conseguem explicar o comportamento dos humanos experientes nesta situação”, explicou Daniel McNamee, investigador da Fundação Champalimaud, citado no EurekAlert!.
O estudo sugere que a abordagem humana é mais flexível e eficiente, considerando variáveis como trânsito e acessibilidade das ruas.
Outro dado curioso foi que os taxistas demoraram mais tempo a processar mentalmente ruas mais longas, indicando que percebem a cidade de forma realista e não apenas de modo abstrato.
“Esperávamos que os taxistas tivessem uma visão menos concreta da cidade, mas o comprimento real das ruas afeta o seu planeamento”, comentou McNamee.
Os investigadores acreditam que estas descobertas podem ajudar a melhorar a IA, permitindo que os algoritmos de navegação aprendam com a intuição humana. Além disso, sistemas de IA colaborativos poderão beneficiar da compreensão sobre como os humanos organizam e processam informações espaciais complexas.