Um novo estudo concluiu que os custos dos acidentes com as trotinetes elétricas em Lisboa são 11 vezes superiores aos seus benefícios económicos e ambientais. Há casos onde os acidentes foram mortais.
Há já cinco anos que as trotinetes elétricas marcam presença nas ruas portuguesas, especialmente em Lisboa e no Porto. E para além de não serem tão amigas do ambiente como se pensava, estes veículos também escondem muitos perigos, já que são crescentes os números de acidentes que envolvem choques com outros veículos ou quedas dos utilizadores.
De acordo com um estudo do Instituto Superior Técnico publicado a 29 de Março, os custos sociais e económicos da sinistralidade associada ao uso de trotinetes são superiores aos benefícios que estas trazem à cidade de Lisboa.
Os dados de 2019 apontam para uma poupança ambiental de 41 mil euros anuais quando as trotinetes são usadas em alternativa aos carros e um benefício económico de 606 mil euros devido aos menores custos diretos associados.
No entanto, segundo a investigadora e co-autora do estudo Rosa Félix, em 2019, os acidentes na capital que envolveram trotinetes custaram cinco milhões de euros em despesas de saúde, “um valor 11 vezes maior que os benefícios ambientais e económicos gerados pela sua utilização”.
A investigação baseou-se nos registos de 1,4 milhões de viagens em trotinetes alugadas e num inquérito a mais de 900 utilizadores. “Em 2022, o INEM transportou 6280 feridos envolvendo trotinetas, bicicletas e skates, quase o triplo do valor em 2019″, refere a investigadora ao Nascer do Sol. Entre 2022 e 2021, houve ainda um aumento de 91% no número de feridos que foram levados de ambulância.
De acordo com João Varandas Fernandes, diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Traumatologia Ortopédica do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, os ferimentos mais frequentes são “traumatismos simples ou complexos dos membros inferiores, nomeadamente joelhos, tornozelos e pés, traumatismos cranianos e faciais”. Nos acidentes mais graves, a recuperação pode chegar a ultrapassar os seis meses.
Há até já casos de acidentes fatais. Foi o caso de Catarina, uma mulher de 33 anos natural de Vila Nova de Santo André, que em maio de 2022 perdeu a vida num acidente. Estava com um grupo de amigos quando um deles apareceu com uma trotinete alterada, que chegava aos 120 quilómetros por hora.
“A minha irmã tinha um bebé com sete meses na altura e estava muito pesada, isso também influenciou. Quis dar uma voltinha, deu o menino ao meu cunhado, mas como foi sem capacete, embateu na curva e nem teve reação, segundo o que o médico me disse. Caiu de cabeça e ficou logo em morte cerebral. Ficou logo cega, em estado vegetativo”, revela Cláudia, irmã de Catarina.
A jovem de 33 anos acabou por perder a vida no hospital. “O médico referiu que estes acidentes acontecem aos pilotos de fórmula 1. O embate foi muito forte”, frisa.
Podem as trotinetes ser banidas?
Recentemente, Paris baniu as trotinetes elétricas após ser feito um referendo à população, tendo 90% dos habitantes da capital francesa votado a favor da sua proibição. Pode Portugal avançar com medidas semelhantes?
“Não me parece que seja necessário um referendo, não sentimos essa necessidade”, explica Pedro Baganha, vereador do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto (CMP), em declarações ao programa “Esta Manhã”, da TVI.
No entanto, “se a questão das trotinetes começar a ser um conflito demasiado oneroso para o espaço público”, a autarquia admite uma “alteração dos regulamentos” e das condições impostas aos operadores dos veículos.
O vereador adianta que os operadores já têm de cumprir um número de requisitos, como “a localização de pontos de partilha, proibição de circulação em determinados locais da cidade e a georeferenciação de cada um dos veículos”.
“Temos conseguido controlar um fenómeno que, se for descontrolado, começa a ser um problema para as cidades. Na cidade do Porto parece-me que ainda não é um problema, mas naturalmente que, se essa situação for evoluindo, nós, de forma dinâmica, vamos ajustando as nossas ações e regulamentos”, cita a CNN Portugal.
Já em Lisboa, também se afasta a realização de um referendo. A Câmara acredita ainda que o recente acordo assinado com os operadores, que fixa o limite de velocidade em 20 quilómetros por hora, limita o número de trotinetes e determina os lugares de estacionamento obrigatórios, está a dar frutos.
“Houve operadores que reduziram o número de trotinetes e a fiscalização também aumentou”, explica Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa à TVI. Mesmo assim, “ainda há muito a fazer em relação ao estacionamento”.
Filipe Anacoreta Correia reforça ainda que a autarquia também promove “conselhos de cidadãos” com lisboetas escolhidos aleatoriamente “para manifestarem a sua opinião sobre esta matéria e várias propostas”. O vereador frisa que a autarquia tem também apostado na formação de jovens através de “duas escolas de condução por onde passam centenas de alunos”.
Confrontado com os números do estudo sobre a sinistralidade, Filipe Anacoreta Correia admite que são “bastante impressionantes“, mas que “não estão refletidos em estatísticas”. “Os números que nós temos da PSP são muito inferiores. De qualquer forma, se calhar são mais fidedignos porque há muita gente que não chama a polícia», afirma.
“A situação tem de ser melhorada. Este acordo foi o primeiro passo. Foi também pioneiro ao envolvermos os operadores nisto. As coisas estão um bocado melhores do que o que estavam”, remata.
Como sempre, na nossa terrinha, não há referendos. Mas que medo de ouvir a voz do Povo. Reflexo da nossa democracia subdesenvolvida. Quanto ao assunto, estudo muito oportuno. Tenho visto coisas em Lisboa verdadeiramente de arrepiar… com essas coisas a surgirem por todos os lados, a não respeitarem sinais, a serem deixadas ao molho no chão. Perigosíssimo. Mas já se está a ver que não vão fazer nada… umas regras (para ninguém cumprir), uns conselhos, uns apelos, e tudo fica na mesma. Claro que existem interesses, os tais ‘operadores’ de que fala o autarca. Proibição já!!
Trotinetes e “ciclistas” que utilizam toda a faixa de rodagem numa estrada, deviam ter os dias contados, sou praticante de desporto ao ar livre, mas sou a favor de espaços dedicados ao mesmo, ja me aconteceu em pleno verão na estrada N 125 tres ciclistas circularem ao lado uns dos outros fazendo uma fila de carros talvez de uns 2/3 kilometros, não me venha ninguém dizer que è a favor destas situações, e são praticamente situações diárias…dentro das cidades circulam pela direita, pela esquerda..regras não existem…não digo que são todos mas è uma grande maioria…
E os automobilistas em Portugal que não têm qualquer respeito pelas motas?! Uma vergonha digna do terceiro mundo.
Tenho 50 anos, conduzo mota desde os meus 21 anos, normalmente desloco-me todos os dias para meu trabalho de moto…( uma media de +- 90 kilometros por dia) NUNCA fiz uma ultrapassagem pela direita nem num traço continuo…ja de velocidade assumo que ultrapasso muitas vezes os limites, mas vejo diariamente “motociclistas” que mancham muito a nossa imagem…isto digo eu…
Pois, mas o problema central é a total falta de respeito pelos motociclistas em Portugal. Só mesmo no terceiro mundo é que vi igual. Em nenhum país civilizado se passa algo semelhante.
Deve ser outro Portugal… ou há gente a quem acontece tudo!…
Não me lembro da última vez que tive problemas a andar de mota.
Infelizmente um dos meus melhores amigos não pode dizer o mesmo. Partiu apenas porque o automobilista achou que tinha prioridade quando se apresentava pela esquerda. RIP