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Tríade Mendes-Fosun-Wolves. O quid pro quo que pode estar perto do fim

A ligação entre Jorge Mendes, a Fosun e o Wolverhampton há muito que é contestada. Agora, pode estar perto do fim graças a novos regulamentos para agentes de jogadores.

As participações sociais da Gestifute S.A. e da Gestifute International Limited são geridas, desde 2008, pela holding Start SGPS que, por sua vez, é detida pela Start BV. Na direção está Jorge Mendes, com a sua esposa, Sandra Mendes, na vice-presidência.

No mês passado, Carlos Osório de Castro saiu da presidência do Conselho de Administração da holding, dando o lugar ao próprio Jorge Mendes. Osório de Castro é advogado da Gestifute e a sua firma consta de todos os grandes negócios feitos por Jorge Mendes.

Start SGPS

Além da Start BV, a lista de sócios/acionistas da Start SGPS é ainda constituída pela Fosun e pela Champion Start Limited.

A Start BV é uma empresa de fachada fundada em 2012 que permitiu a Jorge e Sandra Mendes, segundo uma investigação da Mediapart, ganhar 67 milhões de euros dos lucros da sua empresa Gestifute sem pagar impostos. 

De acordo com a sua declaração fiscal, Jorge Mendes apenas declara salários. Oficialmente não recebe nenhum dividendo do grupo Gestifute, enquanto a empresa gera dezenas de milhões em lucros. Estes dividendos, que seriam tributados a 28% em Portugal, são artificialmente transformados em mais-valias na alienação de ações, que não são tributadas cá.

Em vez de pagar dividendos, a Start SGPS recomprou ações do agente, cancelando-as depois. Isto não muda nada para Jorge Mendes, já que ele continua a ser 100% acionista, mas é excelente para o seu portfólio, porque a venda das ações não é tributada. 

Em outubro de 2012, Jorge Mendes deu à sua esposa 49,99% da holding portuguesa, a Start SGPS. Quando em novembro o empresário constituiu a Start BV, cedeu-lhe 51,01% do restante capital da Start SGPS. Depois, em dezembro, Mendes comprou à sua mulher por dezenas de milhões de euros, através da Start BV, os 49,99% da Start SGPS que lhe tinha dado dois meses antes. 

No total, Sandra Mendes recebeu 67 milhões de euros, livres de impostos, com a venda ao marido das ações que este lhe tinha cedido gratuitamente. 

ZAP

Jorge Mendes deu 49,99% da Start SGPS a Sandra Mendes, que depois vendeu por 67 milhões à Start BV, a empresa fachada que detém a Gestifute.

A Champion Start, a outra empresa acionista da Start SGPS, foi fundada em 2010 por Xinjun Liang, presidente da Fosun. O vice-presidente principal e diretor de recursos humanos da Fosun International, Donghui Pan, é o diretor da empresa.

A Start SGPS detém ainda 48,13% da Polaris, empresa que trata dos direitos de imagem de Ronaldo. 

Ronaldo entregou os direitos de imagem em 2009 à Tollin, nas Ilhas Virgens Britânicas. Por sua vez, a Tollin entregou os direitos à Multisports & Image Management (MIM), empresa irlandesa com ligações a Jorge Mendes, e à Polaris Sports, empresa gerida por um sobrinho do agente português.

A tríade Mendes-Fosun-Wolves

As estratégias do Wolverhampton no mercado foram consideradas durante anos à margem da legalidade do futebol. A ligação entre Jorge Mendes e a Fosun, que detém o clube inglês, é aceite pelas Associações de Futebol e pelos regulamentos em vigor, mas que em todo o caso torna as operações de mercado realizadas nos últimos anos no mínimo “ambíguas”.

Em 2016, a Gestifute e a Fosun formalizam uma parceria com o objetivo de “estabelecer uma relação que contribua para a dinamização da expansão do futebol na China, quer na vertente desportiva como na comercial, criando uma nova ‘joint venture’ no país”, lê-se no comunicado da Gestifute.

A cerimónia contou com a presença de várias figuras conhecida do futebol, como por exemplo José Mourinho, Domingos Oliveira e Bernardo Carvalho (Benfica), Luíz Fernandez, Rafael de los Santos e Begoña Sanz (Real Madrid) ou Vadim Vasilyev (Mónaco).

Curiosamente, estas são figuras de clubes que fazem parte do chamado “Carrossel Jorge Mendes”, que o ZAP chamou a atenção em fevereiro.

A FIFA deve agora implementar novos regulamentos para agentes de jogadores a partir do próximo ano. As diretivas preveem que “qualquer pessoa ou entidade que tenha um interesse económico, direto ou indireto, numa liga ou clube, não pode ter interesse económico na atividade de agente de jogadores, nem poderá exercer qualquer função numa empresa privada que gere os interesses dos jogadores” 

Parece uma lei escrita especificamente contra Jorge Mendes, mas obviamente visa limitar a influência de todos os superagentes nas operações dos clubes de futebol, escreve o jornal britânico The Times.

Vendo os negócios entre jogadores na influência de Jorge Mendes e o Wolverhampton rapidamente se percebe o problema existente.

Na história recente do clube inglês, são vários os jogadores nos quais o empresário português esteve envolvido direta ou indiretamente: Rui Patrício, Willy Boly, Roderick Miranda, Nélson Semedo, Rúben Vinagre, Sílvio, João Teixeira, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro, Ola John, Rúben Neves, Pedro Gonçalves, Diogo Jota, Rafa Mir, João Moutinho, Jonny Castro, Raúl Jiménez, Paulo Alves, Boubacar Hanne, Vitinha, Pedro Neto, Daniel Podence e Bruno Jordão.

A premissa é simples. Olhe-se para o caso mais recente de Fábio Silva, por exemplo. O jovem internacional português, agenciado por Jorge Mendes, foi comprado pelo Wolverhampton ao FC Porto, por 40 milhões de euros. Os Wolves pagaram 7 milhões de euros de comissão à Gestute, de Jorge Mendes.

ZAP

O negócio de Fábio Silva, contratado pelo Wolverhampton ao FC Porto.

Quid pro quo. Jorge Mendes ganha dinheiro das comissões e a Fosun, que detém o Wolverhampton, vai buscar parte desse dinheiro por deter uma parte da Gestifute.

DC, ZAP //

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