Todos querem “virar a página” e se revêm nas “evidências” de Marcelo (que “falhou no essencial”)

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Mário Cruz / Lusa

Na sua tradicional mensagem de Ano Novo, proferida no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que Portugal pode fazer “muito e muito mais”, e que é preciso o país “virar a página”. 

O Presidente da República defendeu este sábado, na sua mensagem de Ano Novo,  que Portugal deve em 2022 “consolidar o percurso para a superação da pandemia”, considerando que os meses entre janeiro e março serão o “tempo crucial” para fechar “um capítulo da história”.

“Estamos encaminhados, mas falta o fim dos fins. É preciso o país “virar a página“, afirmou o presidente da República, no seu quinto discurso de Ano Novo desde que tomou posse, em 2016.

Marcelo Rebelo de Sousa abordou também as eleições de 30 de janeiro para defender que os portugueses terão de “decidir a Assembleia da República e o Governo para os próximos quatro anos, com legitimidade renovada”.

“Uma Assembleia da República que dê voz ao pluralismo de opiniões e soluções, um Governo que possa refazer, também ele, esperanças e confianças perdidas ou enfraquecidas, e garantir previsibilidade para as pessoas e para os seus projetos de vida”, afirmou.

PS revê-se “plenamente” (e quer previsibilidade)

Em reação à mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral adjunto do Partido Socialista, José Luís Carneiro, destacou a necessidade de o país precisar de estabilidade política, previsibilidade nas opções políticas e confiança para enfrentar os próximos desafios.

Revemo-nos plenamente na mensagem do senhor Presidente da República, revemo-nos em primeiro lugar porque o país precisa de estabilidade política para consolidar a estratégia de combate à pandemia e de previsibilidade nas opções políticas para assegurar as condições de recuperação da economia e das condições de vida dos portugueses”, afirmou o dirigente do PS.

Juntos conseguimos virar a página da austeridade em 2015 e, agora, juntos vamos conseguir virar a página desta pandemia e assegurar o crescimento da economia e a recuperação das condições de vida de todos os portugueses e reforçar Portugal como um país de progresso e de bem-estar”, referiu.

O dirigente sublinhou ainda não ter sido o PS o culpado do país ir a eleições em janeiro, acrescentando que o partido “tudo fez” no Parlamento para evitar o chumbo do Orçamento de Estado para 2022.

PSD quer ser protagonista no “virar de página”

O PSD concordou com o Presidente da República, que disse que Portugal precisa de “virar de página”, e referiu que quer vencer as eleições legislativas de dia 30 para ser protagonista dos “novos momentos que o país precisa”.

Numa reação a partir de Guimarães, André Coelho Lima, vice-presidente do PSD, considerou que a mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa fica marcada pela “expressão a que os portugueses estão mais habituados” na viragem do ano: “Ano novo, vida nova”.

O dirigente afirmou que a mensagem de Marcelo “assentou muito na pandemia, assentou muito na paragem económica, assentou muito na crise social, assentou muito também em algo que é muito importante para o PSD, na descompensação das pessoas, ou seja, os efeitos indiretos ou laterais da pandemia”.

Mas “sobretudo assentou a sua mensagem na esperança, naquilo que a viragem deste novo ano e na proximidade que temos de um ato eleitoral, das eleições legislativas, o que significa também para haver um virar de página a que se referiu o senhor Presidente da República”, disse.

“É obviamente com sentido de dever e com muita proximidade das palavras do senhor Presidente que nos associamos à necessidade do virar de página do nosso país”, afirmou.

O PSD “apresenta-se naturalmente com toda a humildade a estas eleições com o objetivo de as vencer”, para “protagonizar esse virar de página, para protagonizar essa ambição, esses novos momentos que o país precisa”, salientou André Coelho Lima.

Chega diz que discurso “falhou no essencial”

Numa declaração em vídeo, o líder do Chega, André Ventura, defendeu que, apesar de ter procurado “transmitir aos portugueses alguma confiança”, a mensagem do Presidente “continuou a falhar no essencial”, criticando-o por não ter identificado os responsáveis pela crise política e por ter-se focado demasiado na pandemia.

“Consciente de que vamos entrar num novo ciclo político imprevisível, foi incapaz, na nossa perspetiva, de identificar os verdadeiros responsáveis pela crise que estamos a viver: o PS e a extrema-esquerda, que não conseguiram fazer aprovar o Orçamento do Estado e resolver a situação económica e política do país”, indicou.

O presidente do Chega considerou também que, ainda que o chefe de Estado tenha sido “capaz de transmitir aos portugueses a força que é preciso para os desafios” que vão ter de ser ultrapassados, deu a impressão de que o país “vive fechado única e exclusivamente à volta da pandemia”.

“Portugal tem hoje muitos problemas para além da situação da evolução do covid e da evolução da pandemia”, afirmou, citando questões como “as falências consecutivas, a falta de apoio aos negócios, aos comércios, aos empresários” ou a “destruição progressiva de empregos”.

Segundo André Ventura, “tudo isto ficou fora dos pontos centrais” do discurso do Presidente da República.

“Isso é uma carência que não deveria ter acontecido. Marcelo Rebelo de Sousa é, ou deve ser, o representante máximo de Portugal e, neste momento, Portugal tem muitas outras preocupações, muitas outras ansiedades, que não a mera questão do covid, e isso também falhou no discurso do Presidente da República”, afirmou.

BE subscreve mensagem e pede novo ciclo

Na reação à mensagem do Presidente, Bruno Maia, deputado do Bloco de Esquerda, fixou as prioridades do BE na proteção do SNS, na subida de salários e na defesa do clima, que só serão acauteladas com “uma esquerda à esquerda do PS que seja forte e saia reforçada das eleições” de 30 de janeiro.

“Desde 2019 até agora o PS recusou fazer um acordo à esquerda em torno de compromissos concretos. O que vai fazer a diferença daqui para a frente é a força do voto das pessoas”, considerou o deputado bloquista.

“Se houver um voto que diga que tem de haver uma maioria à esquerda sem maioria absoluta do PS, então essa maioria de esquerda está legitimada e tem de se sentar à mesa para negociar”, afirmou o candidato a deputado do BE pelo círculo eleitoral de Lisboa.

Para Bruno Maia, “era preciso um acordo escrito em torno de medidas concretas” já em 2019 e o próximo ato eleitoral repete essa necessidade para o futuro do país, com o militante bloquista a sustentar que a esquerda já passou a fase de resposta ao “massacre que foi o tempo da ‘troika’ e o governo das direitas”.

Já estamos noutra fase e essa fase exige esse novo ciclo político”, observou, sublinhando que “temos de estar prontos para cumprir aquilo que é a vontade do voto popular”.

Se a vontade é uma maioria de esquerda no parlamento, essa maioria vai ser forçada a sentar-se e a negociar em torno de um acordo, eventualmente para uma legislatura, escrito e que assente em caminhos concretos que possam mudar a vida das pessoas e fazer aquilo que é preciso fazer”.

Sem querer avançar uma hipotética “discussão de lugares”, o militante bloquista preferiu focar a mensagem na discussão de “um acordo de legislatura em torno de medidas concretas” após as eleições de 30 de janeiro e que é “o voto popular que força essa negociação” entre os partidos à esquerda.

PCP: palavras de Marcelo são “evidências”

“Aquilo que o senhor Presidente da República diz são para nós evidências, de que é importante que o ano de 2022 dê um passo para que os problemas concretos das pessoas sejam resolvidos”, declarou o deputado António Filipe, do PCP.

Segundo o deputado comunista, os problemas concretos “têm que ver com o que as pessoas sentem no seu dia-a-dia”, desde os baixos salários, o acesso à habitação, condições de acesso a cuidados de saúde, que apontou como “questões fundamentais”.

António Filipe garantiu que a resolução dos problemas das pessoas é a “firme convicção” do Partido Comunista, desde logo para que “os recursos disponíveis não sejam afogados em corrupção e em ‘offshores’“, mas sirvam antes para promover o desenvolvimento do país e melhorar as condições de vida dos portugueses.

Segundo o deputado, o país precisa de “um aumento generalizado dos salários“, de ver resolvido o problema da precariedade laboral, de “dignificar a contratação coletiva”, e de criar condições para que os trabalhadores consigam conciliar a vida laboral e familiar.

IL diz que “é de facto hora de virar a página”

O presidente da Iniciativa Liberal defendeu que “é de facto hora de virar a página” na gestão da pandemia e no modelo de desenvolvimento de Portugal e considerou que as eleições legislativas constituem essa oportunidade.

Numa reação à mensagem de Ano Novo do Presidente da República, através de um vídeo enviado às redações, João Cotrim Figueiredo saudou o mote escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa.

É de facto hora de virar a página. Virar a página na gestão da pandemia, e atenção já para o dia 30 de janeiro em que temos oportunidade de mudar as coisas, que essa oportunidade não seja perdida para muitos dos que vão estar em confinamento ou isolamento”, defendeu.

Mas também é preciso “virar a página no modelo de desenvolvimento de Portugal, nas políticas que são aplicadas em Portugal e que não podem continuar a produzir mau emprego, poucas oportunidades, salários baixos”, acrescentou o líder da IL.

Para João Cotrim Figueiredo, “não foi o melhor discurso, a intervenção mais empolgante do senhor Presidente, mas teve pelo menos duas virtudes“.

“A primeira foi tornar claro aquilo que nos últimos dias já era evidente para todos, que o senhor Presidente tem divergências com o Governo relativamente à abordagem da pandemia e esta excessiva dramatização que o Governo do PS parece querer imprimir a esta questão, quem sabe se por interesses eleitorais, mas certamente com prejuízo da vida social e económica de todos nós”, afirmou.

Além disso, “não parece haver alinhamento entre o senhor Presidente da República e aquela que tem sido a abordagem do Governo do PS nestes últimos seis anos, certamente, relativamente ao modelo de desenvolvimento do país”.

ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. Virar a página é: exigir aos partidos da esquerda à direita ao sacrifício no entendimento com visão no futuro do superior interesse de Portugal, Sustentabilidade e Equidade Futura.

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