Centenas de tibetanos manifestaram-se este sábado, em Paris, em apoio ao Dalai Lama, que foi duramente criticado nas redes sociais após a divulgação de um vídeo que, segundo os seus defensores, foi mal interpretado e explorado pela “propaganda chinesa”.
Um protesto juntou este sábado em frente à sede da France Télévision centenas de tibetanos, com palavras de ordem como “Deixem de difamar sua santidade!” e “Parem a propaganda chinesa”.
De acordo com um porta-voz da comunidade tibetana, a concentração foi realizada para denunciar “os meios de comunicação e as redes de televisão que não fizeram o seu trabalho de jornalistas e reproduziram a propaganda chinesa”.
O Dalai Lama tem estado em foco devido à polémica em torno de um vídeo, datado de Fevereiro de 2023, onde uma criança lhe pediu para lhe dar um abraço, ao que o líder espiritual tibetano respondeu que lhe podia antes chupar a língua.
Colocar a língua de fora é considerada uma forma de saudação no Tibete, mas o comportamento foi condenado online e até foi criada uma petição para “salvar as crianças” de Dalai Lama, que mais tarde pediu desculpas.
Há quem sustente no entanto que o Dalai Lama não tinha más intenções com a criança e que o vídeo foi usado por propagandistas do Partido Comunista Chinês para difamar a sua imagem.
Após a controvérsia gerada por este vídeo, ressurgiu nas redes sociais um outro vídeo, de 2016, no qual o Dalai Lama toca nas pernas de Lady Gaga, num encontro à margem da conferência anual dos Mayors dos Estados Unidos, onde ambos participavam como conferencistas num painel sobre a paz.
Os manifestantes, incluindo muitas famílias com crianças, empunhavam bandeiras tibetanas e retratos do Dalai Lama, líder espiritual tibetano.
O protesto foi convocado por seis associações em resposta às reações após a divulgação do vídeo, gravado em 28 de fevereiro, durante uma audiência do Dalai Lama em McLeod Ganj, subúrbio no norte da Índia, onde o líder espiritual tibetano vive exilado desde o fracasso da rebelião de 1959 contra o poder comunista chinês.
O líder budista apresentou posteriormente desculpas ao menino e sua família, e explicou via Twitter que “costuma brincar com as pessoas que conhece de forma inocente e lúdica, mesmo em público e diante das câmeras”.
A comunidade tibetana exilada em França considerou que ter havido “uma interpretação errada do vídeo” e lamentou que tenham estado a circular “factos descontextualizados, que entristeceram profundamente e feriram a comunidade tibetana em França e em todo o mundo”.
“Foi realmente uma brincadeira do Dalai Lama”, explicou Françoise Robin, professora da universidade francesa Inalco – Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais, à Agência AFP.
“Os tibetanos têm uma expressão: ‘coma a minha língua’, com origem num jogo entre crianças e adultos, quando as primeiras pedem dinheiro ou um doce e os adultos já não têm nada para dar”, explicou.
“Captamos muito mal a dor que essa manipulação causou nos tibetanos”, para quem o dalai lama é “sua esperança e seu orgulho”, acrescentou a acadêmica.