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Novo teste promete detetar sinais de Alzheimer em cinco minutos

(dr) The Ohio State University Wexner Medical Center

Investigadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, criaram um teste de rastreio para detetar sinais de demência precoce.

Após milhões de anos de evolução, o nosso cérebro herdou uma forte capacidade de reagir quando avistamos animais. Agora, cientistas ligados à Universidade de Cambridge, em Inglaterra, estão a usar esse instinto para detetar sinais de demência.

O Alzheimer é a forma mais comum de demência — que se caracteriza pela deterioração de funções cognitivas, como a memória e o aprendizado — e está por trás de 60 a 70% dos casos de demência que atingem 55 milhões de pessoas no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 2050, de acordo com estimativas da OMS, este número deverá chegar a 139 milhões, escreve a BBC.

Criada por investigadores de Cambridge, a empresa Cognetivity Neurosciences desenvolveu um teste digital com duração de cinco minutos, baseado em inteligência artificial, que deteta sinais do declínio cognitivo a partir de imagens de animais mostradas num tablet.

Algumas fotos são menos óbvias do que outras e o objetivo do teste passa por confirmar se cada imagem corresponde a um animal, ou não. Depois, o aplicativo mostra uma pontuação, que pode ser um alerta do declínio cognitivo.

Os fundadores da Cognetivity, Sina Habibi e Seyed-Mahdi Khaligh-Razavi, contam no site da empresa que estavam a lidar com casos de demência na família quando começaram a procurar soluções para o seu diagnóstico porque os seus parentes “foram diagnosticados tarde demais para conter as consequências devastadoras da doença”.

Apesar de o teste não fazer um diagnóstico, tem a função de rastreio, o que significa que dá indícios de um possível problema, que deve então ser investigado por um especialista.

A Cognetivity obteve permissão da agência norte-americana, Food and Drug Administration (FDA), para comercializar o teste e também já obteve autorização do Reino Unido.

O valor de mercado da empresa pode chegar a 11,4 mil milhões de dólares até 2026.

Em entrevista à BBC News Brasil, Sina Habibi afirmou que a empresa está “ativamente à procura de parcerias” para entrar no mercado brasileiro.

Os investigadores defendem que o teste, chamado Integrated Cognitive Assessment (ICA), se diferencia de outros porque os testes de rastreio de demência são normalmente feitos com papel e caneta — é pedido aos pacientes que desenhem, deem nomes a objetos ilustrados e decifrem códigos de desenhos e números.

Além disso, tem potencial “global” por ser independente de idiomas, ultrapassando as barreiras linguísticas ou de diferentes níveis de educação, e por poder ser usado digitalmente por qualquer pessoa — não precisa de ser supervisionado por um médico.

“O ICA pode, certamente, ser usado para rastrear o comprometimento em pessoas que têm alguma preocupação sobre a sua cognição. Precisamos de incentivar o controlo de pessoas com fatores de risco (como casos na família), e o teste pode ser uma ferramenta valiosa para esse fim”, disse Habibi.

A equipa de investigadores envolvidos no projeto têm publicado, desde 2013, estudos sobre o método desenvolvido e os seus resultados em revistas científicas como a Scientific Reports e a BMC Neurology Journal.

No estudo mais recente, publicado em julho na Frontiers in Psychiatry, o método foi testado em 230 pessoas — 95 consideradas saudáveis e 135 que tinham Alzheimer ou declínio cognitivo suave.

Os resultados do ICA mostraram-se semelhantes aos de outros testes já comummente usados para verificar o declínio cognitivo, como a Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA, na sigla em inglês) e o Exame Cognitivo de Addenbrooke (ACE). Mas, de acordo com o artigo, a capacidade de detecção do ICA não depende do nível educacional.

Em 2019, um estudo publicado na Scientific Reports comparou o ICA com mais cinco testes cognitivos padrão e mostrou também a sua vantagem relativamente aos níveis de escolaridade.

“O teste ICA beneficia de milhões de anos de evolução humana — e da forte reação do cérebro humano aos estímulos de animais. Observadores humanos são muito bons em reconhecer se imagens rapidamente expostas, em flashes, contêm um animal”, diz um trecho do artigo científico.

Ainda que já esteja a ser comercializado em alguns países, o teste continua sob estudo. Atualmente, está a ser usado em centros de pesquisa do sistema público de saúde britânico, o National Health Service (NHS).

Para que o teste possa ser utilizado em locais com poucos recursos, Sina Habibi, da Cognetivity, afirmou que a empresa está a desenvolvee uma versão em formato de site, para pessoas e unidades de saúde que não tenham acesso a um tablet.

ZAP // BBC

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