Terapia revolucionária para a sepsis descoberta em Portugal

ZAP // Carmo, A., Oliveira, L. et al / Nature Communications

Estudo conduzido por investigadores portugueses aponta uma proteína como possível tratamento de sépsis em humanos.  Para já, “que cura ratinhos, lá isso, cura!”

Um estudo liderado por Liliana Oliveira e Alexandre Carmo, investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), descobriu que a administração intravenosa de uma proteína biológica circulatória e anti-inflamatória é eficaz no tratamento da sépsis.

O pedido de patente já está em curso, e os resultados do estudo, que apontam a proteína CD5L como um possível tratamento para a sépsis em humanos, foram publicados na revista Nature Communications.

A sépsis é diretamente responsável por quase 20% dos óbitos em todo o mundo, sendo a principal causa de morte em unidades de cuidados intensivos e a terceira em hospitais.

Em vários tipos de infeções, e sobretudo em pessoas com a imunidade debilitada ou comprometida, o sistema imune pode reagir desproporcionadamente, de tal forma que a resposta inflamatória desencadeada torna-se incontrolável e provoca mais danos do que o agente infecioso propriamente dito.

A sépsis é precisamente o termo mais generalizado para estas inflamações sistémicas severas e pode ser mortal depois de esgotadas todas as terapias antimicrobianas (antibióticos, antivirais, etc.).

Uma vez que ainda não existe nenhuma terapia totalmente eficaz contra a sépsis e é cada vez mais premente encontrar soluções, o grupo liderado por Alexandre Carmo tem centrado a sua investigação na proteína CD5L, uma proteína-chave no controlo da homeostase (ou estabilidade) imunitária e da doença inflamatória e que é produzida pelo organismo.

No âmbito do trabalho, a equipa verificou que, numa situação de sépsis, 60% dos animais que não possuem a proteína CD5L morre. Verificaram também que numa situação de sépsis mais severa nenhum ratinho sobrevive.

No entanto, se for administrada a CD5L a taxa de sobrevivência é de 80%. “Esta proteína é mesmo muito eficaz”, sublinha Alexandre Carmo. “Não consigo dizer com certeza que vai curar humanos, mas que cura ratinhos, lá isso cura”.

i3S

Alexandre Carmo e Liliana Oliveira descrevem esta proteína circulatória como “muito eficaz” e garantem que pode ser injetável.

“Estudámos os mecanismos desta proteína circulante e percebemos que a CD5L tem a capacidade de aumentar o recrutamento e a ativação dos neutrófilos, um tipo de glóbulo branco que ajuda o organismo a combater infeções”, explica a co-autora do estudo, Liliana Oliveira.

“Verificamos também que está bloqueada com a proteína IgM, o primeiro anticorpo a ser ativado na resposta imunológica a uma infeção. Acontece que quando há uma inflamação, a CD5L consegue-se separar da IgM, embora a sua ação esteja limitada a 20 por cento do seu potencial”, acrescenta.

A equipa decidiu então produzir esta proteína e injetá-la no modelo animal com sépsis com o objetivo de aumentar o número de neutrófilos.

“Ao injetarmos esta proteína para regular o sistema imune, estamos a administrar uma grande concentração de CD5L que tem a sua atividade a 100%, porque não está complexada com a IgM, logo a sua ação é muito eficaz”, detalha a investigadora.

Para já, a equipa do i3S realizou estes testes in vivo num modelo com sépsis de origem abdominal, que é o modelo standard.

Mas como o maior número de casos de sépsis está relacionado com infeções respiratórias, e porque o objetivo é avançar depois para a translação em humanos, o próximo passo é testar também em casos de sépsis com origem pulmonar.

A partir daí, e ainda antes dos ensaios clínicos, é preciso testar a toxicidade e a biodistribuição — o modo como como afeta os outros órgãos — num outro modelo de mamífero.

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