Os resultados de um ensaio clínico, pioneiro a nível mundial, mostraram que uma nova terapia genética é promissora na redução da quantidade de proteínas nocivas que se acumulam no cérebro dos doentes com Alzheimer, podendo abrandar ou inverter a doença.
Utilizando a terapia num pequeno número de doentes, os investigadores conseguiram reduzir para metade a concentração da proteína tau nos seus cérebros, que se pensa estar implicada no declínio cognitivo observado nas pessoas com a patologia, relatou a IFL Science.
A doença de Alzheimer é famosa na comunidade científica por ser considerada a doença mais difícil de compreender. Com modelos animais que podem não a representar corretamente e numerosas hipóteses sem saída – que se revelam promissoras na teoria mas falham na prática -, a investigação tem resultado continuamente em desilusão quando se trata de criar um tratamento viável.
A compreensão atual da causa subjacente à doença assenta em dois mecanismos principais: a acumulação nociva da proteína tau; e placas de proteína amilóide. Ambas desintegram-se à medida que se formam, impedindo as células cerebrais de comunicarem entre si e causando mesmo a morte dos neurónios.
Esta investigação, publicada recentemente na Nature Medicine, centrou-se na tau. A tau é uma proteína insolúvel, codificada pelo gene da proteína tau associada aos microtúbulos (MAPT), que forma emaranhados no cérebro de doentes com Alzheimer, o que a torna um alvo privilegiado para terapias.
A nova abordagem, designada BIIB080 (/IONIS-MAPTRx), visa a MAPT com um oligonucleótido “silenciador de genes” (uma pequena porção de ADN ou ARN) que impede o gene de produzir mais tau.
Os ensaios clínicos foram concebidos para verificar se o medicamento é seguro para os humanos e se é bem tolerado, e não para verificar se é eficaz no tratamento da doença. Os investigadores testaram-no em 46 doentes com uma idade média de 66 anos, tendo alguns recebido o medicamento por injeção na medula espinal, enquanto outros receberam um placebo.
Todos os doentes do grupo concluíram o ensaio e registaram-se apenas pequenos efeitos secundários, o que indica que o tratamento é seguro. No final do ensaio, após 24 semanas, os investigadores descobriram uma redução de tau superior a 50% no sistema nervoso central do grupo que recebeu a dose mais elevada, o que sugere que o medicamento teve um efeito biológico significativo.
Os investigadores precisam agora de avançar para novos ensaios clínicos durante um período de tempo mais longo para avaliar se este efeito tem realmente impacto nos sintomas do Alzheimer.
É normalmente nessa fase seguinte que os medicamentos para a doença tendem a falhar, uma vez que traduzir estes sucessos em redução dos sintomas é uma tarefa difícil – mas este é um dos primeiros resultados promissores de uma terapia deste tipo desde há muito, referiu a IFL Science.
“Precisamos de mais investigação para compreender até que ponto o medicamento pode retardar a progressão dos sintomas físicos da doença e avaliar o medicamento em grupos maiores e com pessoas mais velhas e em populações mais diversificadas”, disse a Catherine Mummery, principal autora do estudo.
“Mas os resultados são um passo significativo no sentido de demonstrar que podemos atingir com sucesso a [proteína] tau com um fármaco silenciador de genes para abrandar – ou possivelmente até inverter – a doença de Alzheimer e outras doenças causadas pela acumulação de tau no futuro”, acrescentou.