“Temos de deixar de dar notícias”. Jornalistas aprovam greve geral por unanimidade

Baixos salários, precariedade, longos turnos, pressão e agressão. “O momento é aqui e agora. Temos de parar”, lê-se na moção aprovada este domingo. Última greve geral aconteceu há mais de 40 anos.

Os jornalistas reunidos no Cinema São Jorge, em Lisboa, no 5.º Congresso de Jornalistas aprovaram este domingo, por unanimidade, uma greve geral e mandataram o Sindicato dos Jornalistas para definir a data da paralisação.

Com quase 800 congressistas presentes, a moção que propunha a greve geral foi aprovada ontem à tarde, nos momentos finais do Congresso do Jornalismo, tendo os congressistas aclamado e aplaudido a decisão da greve geral.

É cada vez maior “a gravidade das condições de exercício do jornalismo em Portugal”, com os jornalistas sujeitos a baixos salários, precariedade, forçados a longos turnos, pressionados e por vezes até agredidos, pelo que considera que “num momento muito grave para o jornalismo” são precisos “gestos consentâneos”, lê-se na moção.

“O momento é aqui e agora. Temos de parar. Simplesmente parar. Exigir que finalmente nos ouçam. Deixar de dar notícias, de fazer diretos, abandonar as redações, as conferências de imprensa e as ações de campanha. Não metemos jornais nas bancas, não damos notícias nas rádios, não transmitimos o telejornal, não publicamos nas redes sociais. Mostremos o quão necessário é o nosso trabalho. Caminhemos juntos sem deixar ninguém para trás”, acrescenta o texto, citado pela agência Lusa.

Os problemas do grupo Global Media (trabalhadores continuam com ordenados em atraso e há ameaça de despedimento coletivo até 200 pessoas) dominaram muitas das atenções do congresso, num momento de crise do jornalismo em que são transversais as más condições laborais e há a crise do modelo de financiamento dos órgãos jornalísticos.

A última greve geral de jornalistas foi em 1982, disse o presidente do Congresso dos Jornalistas, Pedro Coelho.

“Nós de facto viemos para aqui a dizer que tínhamos batido no fundo. Alguma coisa tem de sair do estado onde nós nos encontramos e este congresso é um grito de alerta. Isto não é contra ninguém. É apenas a favor da reconstrução desta classe profissional e sobretudo é a favor da reconstrução do jornalismo”, afirmou o jornalista, em declarações à RTP.

“É um sinal complexo. É uma bomba atómica. Ninguém convoca uma greve geral de ânimo leve. Ninguém tem esse propósito. Isto não é uma coisa disparatada, é uma coisa muito pensada, muito refletida. Nós discutimos muito ao longo destes quatro dias. Já não fazíamos há sete anos. Fizemo-lo agora com grande empenho, com grande vontade, diria até mais com a razão do que com o coração”, apontou o responsável.

“As pessoas só vão dar valor ao jornalismo no dia em que o perderem”, acrescenta o comentador da Renascença Henrique Raposo.

“Nós temos eleições de quatro em quatro anos. Naqueles 1.500 dias entre cada eleição, aqueles espírito democrático é mantido pelos jornais, pelas rádios e pelas televisões”, diz, acrescentando que “o jornalismo é uma construção da democracia que custa muito dinheiro”.

ZAP // Lusa

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