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Telemóveis antigos arrumados nas gavetas? A Vodafone tem um plano para os ressuscitar

Juntamente com entidades parceiras, gigante das telecomunicações quer recolher dispositivos a partir de redes de recolha localizadas sobretudo no Gana, Nigéria e Camarões, evitando, assim, que estes acabem em aterros.

Os constantes lançamentos tecnológicos e as fabulosas campanhas de marketing que os anunciam resultam, com frequência, na substituição de aparelhos que ainda estão operacionais, contribuindo para uma montanha crescente de resíduos eletrónicos – um conceito muito mais literal do que se poderia achar. Acontece que muitos dos aparelhos tecnológicos que usamos no dia-a-dia são difíceis de reciclar, pelo que é frequente estes acabarem em aterros onde produtos químicos tóxicos podem infiltrar-se no solo e poluir o abastecimento de água local.

A Global E-Waste Statistics Partnership estima que produzimos mais de 50 milhões de toneladas de lixo electrónico por ano e reciclamos apenas 20%. De facto, o ser humano deita fora telefones, monitores e inúmeros outros dispositivos que podiam facilmente ser renovados e voltar a ser usados, ou desmontados para recolher os materiais úteis no seu interior.

A dificuldade parece estar em convencer os fabricantes a alinhar nesta cadeia. A empresa de tratamento de resíduos Closing the Loop (CTL) é a responsável por fazer a ligação entre os fabricantes de tecnologia e as comunidades locais, com o objetivo de apelar ao consumo de tecnologia de forma mais sustentável. Recentemente, a empresa deu mais passo e anunciou o seu acordo com a Vodafone na Alemanha, onde a gifante de telecomunicações promete que “para cada telemóvel vendido a clientes privados, tratá um antigo de volta à circulação”.

A Vodafone pretende fazê-lo através da iniciativa One for One (Um por um), através da qual a Close the Loop comprará dispositivos em fim de vida que são completamente inutilizáveis ou não reparáveis, utilizando redes de recolha localizadas sobretudo no Gana, Nigéria e Camarões. Em vez de acabarem em aterros, estes dispositivos são profissionalmente reciclados para extrair ouro, prata, cobre e cobalto que podem voltar a entrar em circulação.

Segundo o site Wired, a Close The Loop colaborou com a Samsung e a T-Mobile há alguns anos num esquema semelhante, mas numa escala muito menor, para a Galaxy S10e nos Países Baixos. A propósito do anúncio do novo projeto, as entidades envolvidas estabeleceram como meta reciclar pelo menos 1 milhão de telemóveis velhos todos os anos.

“Como tornar a redução de resíduos electrónicos comercialmente atraente para as pessoas”, apontou Joost de Kluijver, director do CTL, como a principal questão que motivou a iniciativa. “Queremos que o pessoal comercial se interesse pela sustentabilidade”.

De Kluijver mostrou-se convencido de que o caminho para uma melhor reciclagem é construir um projeto comercial que possa impulsionar a recolha formal, incentivando a procura de mais lixo electrónico e financiando planos locais. Espera-se também que a Vodafone beneficie deste programa ao recolher e reter mais clientes, provando a outras grandes marcas tecnológicas que as pessoas se preocupam com a forma como o lixo eletrónico é tratado.

Para além do programa com CTL, a Vodafone está também a anunciar a iniciativa GigaGreen Re-Trade, que visa tirar velhos smartphones das gavetas (estima-se que só na Alemanha existam 200 milhões deles) e voltar a coloca-los em circulação, tornando rápido e fácil o seu comércio.

Embora seja melhor do que não fazer nada, este tipo de esquema de compensação de resíduos levanta algumas questões e potenciais preocupações em matéria de greenwashing. Os membros da iFixit – comunidade global composta por pessoas que se ajudam mutuamente em reparos – defende que a reciclagem deve ser o último recurso. Mesmo quando os telefones são devidamente reciclados utilizando as técnicas mais recentes, o que pode realmente ser recuperado é muito limitado. Idealmente, os telefones devem ser renovados repetidamente antes de serem reciclados.

Foram também levantadas preocupações sobre o custo ambiental do transporte dos aparelhos. Muitos países não dispõem de infra-estruturas e conhecimentos especializados para reciclar localmente. A CTL está a enviar os aparelhos que recolhe para fábricas de reciclagem na Europa, apesar de afirmar que o equilíbrio climático é positivo, e planeia apoiar a construção de infra-estruturas de reciclagem diretamente nos países em desenvolvimento. Mas para o CTL e outros, como o World Loop, o envio de lixo eletrónico para a Europa é o menor de dois males quando a alternativa é a reciclagem informal ou o aterro sanitário.

A ideia de que devemos trabalhar para uma economia circular que procura reduzir os resíduos e minimizar os danos ambientais através da reparação, remodelação, reutilização e reciclagem está, ainda assim, a ganhar tração. A União Europeia tem planos neste sentido e a eletrónica está no topo da lista. Mas há um longo caminho a percorrer, e não há aqui nenhuma bala de prata.

De acordo com o iFixit, precisamos de maior investimento nas comunidades de reparação; precisamos de melhores esforços para reutilizar através de organizações como Close the Gap, que renovam dispositivos usados doados e fornecem projetos educacionais, médicos e sociais em países emergentes.

ZAP //

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