Cientista demoraria meses. “Perdemos muitos especialistas para a reforma. Mas a nova geração está a chegar”.
Os investigadores estavam lá, num cemitério na Dinamarca: recolheram amostras de líquen e musgo, colocaram em dois filtros de café separados, mediram o nível de amoníaco do habitat, verificaram as leituras do GPS e registaram a localização num mapa.
Mas a tarefa de descobrir e identificar espécies de tardígrados só foi tão rápida graças à ajuda de quase… 30 mil crianças e jovens.
Eram todos alunos de escolas na Dinamarca, e ajudaram os cientistas do Museu de História Natural da Dinamarca a catalogar os tardígrados, ou ursos de água, e os seus microhabitats.
O estudo refere uma “amostra massiva de ciência cidadã”: a colaboração dos mais novos praticamente quadruplicou o número de espécies de tardígrados conhecidos na Dinamarca e deu novos conhecimentos sobre a biodiversidade destes animais.
Como lembrámos recentemente, há quem diga que o tardígrado é o animal mais indestrutível: resiste a altas doses de radiação, a temperaturas extremas, à seca total, ao vácuo do espaço, por exemplo.
Este projecto na Dinamarca envolveu centenas de escolas em toda a Dinamarca, com crianças que seguiram instruções precisas e assim recolheram 8.000 amostras de musgos e líquenes de parques, florestas e outros locais.
Focaram-se em cemitérios – locais que são a casa uma grande variedade de vida, mas são habitats pouco estudados.
Os investigadores precisavam de recolher e analisar milhares de amostras para chegarem (ou tentarem chegar) a um único membro de uma espécie mais rara de tardígrado, explica o Smithsonian.
“Levaria semanas, ou meses, para chegar a todas estas ilhas e ilhotas”, diz Piotr Gąsiorek, principal autor do estudo. Com os alunos, o ritmo foi outro.
Gąsiorek descartou depois amostras de baixa qualidade e as que provavelmente continham “tardígrados de ratos”, que são espécies comuns que tinha a certeza que iriam aparecer noutras amostras.
O conjunto final tinha quase 700 amostras de alta qualidade prontas para análise posterior.
Nessa análise, foram identificadas 55 espécies de tardígrados, 14 das quais já conhecidas na Dinamarca.
Mas 9 dessas espécies nunca tinham sido reveladas no país.
Destaque para representantes masculinos de diversas espécies, algo incomum: é que muitos tardígrados terrestres conhecidos são fêmeas que se reproduzem assexuadamente.
Pelo menos uma das espécies agora descobertas — que se revelou surpreendentemente disseminada — será descrita em detalhe, com um genoma completo; não será o primeiro genoma completo de um tardígrado a ser sequenciado, mas estará entre os primeiros com indivíduos machos e fêmeas.
E ainda haverá muito mais por explorar: a biodiversidade dos tardígrados está tão pouco estudada que “não é assim tão difícil encontrar novas espécies”, segundo o investigador polaco. Mas, reforça, a abordagem da ciência cidadã foi “muito inovadora”.
Depois de musgos e líquenes, o próximo foco serão muitos ambientes favoráveis aos tardígrados, como os sedimentos de água doce ou o mar.
Em relação aos pequenos investigadores: mais de 60% dos alunos participantes estão agora mais interessados na ciência do que antes do início do estudo. É que “estavam na natureza a fazer coisas a sério”, explicou a organização.