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Suspeitos podem estar a ser erradamente identificados por testemunhas

Alguns suspeitos podem estar a ser incorretamente identificados pelas testemunhas como criminosos nas filas de reconhecimento de suspeitos. O processo pode levar as testemunhas a fazer escolhas tendenciosas.

Filas de reconhecimento de suspeitos podem ser uma evidência poderosa na garantia de condenações em casos criminais. Contudo, evidências de testemunhas oculares são notoriamente propensas a erros.

O “Innocent Project” descobriu que 70% das condenações injustas que foram posteriormente exoneradas tiveram vereditos baseados num reconhecimento de suspeito incorreto.

Agora, um novo estudo publicado no mês passado na revista i-Perception mostra que pequenas variações na cor de fundo das fotografias podem aumentar erros na identificação de suspeitos inocentes. A investigação confirmou também o mito de que as pessoas têm dificuldades em identificar corretamente indivíduos de uma raça diferente da sua.

As filas de identificação de suspeitos costumam ser feitas “ao vivo”, com o suspeito em causa misturado no meio de outros voluntários que se assemelhassem a ele. Contudo, este método trazia vários problemas a nível logístico.

Ultimamente, para evitar esse problema, a identificação de suspeitos em vários países da Europa e nos Estados Unidos tem sido feita através de fotografias ou vídeo.

Escolhas tendenciosas

Este tipo de reconhecimento traz alguns benefícios em relação ao método “ao vivo”. Desta forma, a identificação pode ocorrer mais rapidamente após o crime e os voluntários podem ser selecionados de um banco de dados de imagens.

No entanto, embora alguns estudos sugiram que o reconhecimento de suspeitos através de fotos ou vídeo pode ser mais justo e menos propenso a erros, existem situações em que o alinhamento pode ser tendencioso.

As instruções dadas à testemunha podem torná-la mais propensa a escolher alguém em específico, mesmo quando o alinhamento contém um suspeito inocente. Como resultado, na maioria das formações, a testemunha é informada que “a pessoa pode ou não estar lá”.

O alinhamento pode também ser influenciado na maneira como é constituído. O suspeito pode destacar-se caso a sua fotografia varie em relação à dos outros integrantes da formação. Por exemplo, a imagem do suspeito estar num ângulo distinto dos restantes ou se tem uma expressão facial diferente.

Catriona Havard

Exemplo de um alinhamento tendencioso.

Outra maneira de um suspeito se destacar dos voluntários é caso o plano de fundo da sua filmagem seja diferente dos outros. Apesar de ser usado um fundo padrão para todos, uma variação natural da iluminação ou o uso de câmeras diferentes podem resultar em pequenas diferenças no fundo.

O estudo em causa analisou se essas variações no fundo podem afetar a identificação de suspeitos por parte das testemunhas. Metade dos rostos apresentados aos voluntários do estudo tinham exatamente os mesmos fundos e metade estava em fundos de tons ligeiramente diferentes.

O fundo importa

Os investigadores descobriram que, nos casos em que o alinhamento não continha o rosto do suspeito, havia mais identificações falsas quando os fundos variavam.

Por outro lado, quando o alinhamento continha a cara do suspeito, não havia diferenças nas identificações corretas — dependendo se o plano de fundo variava ou não. Verificaram também que os participantes foram mais precisos em identificar suspeitos da sua própria raça em comparação com outras raças.

O estudo parece sugerir que variações no plano de fundo das fotografias podem não influenciar muito na identificação quando o suspeito culpado é colocado no alinhamento. No entanto, se um suspeito que é inocente é colocado nesse alinhamento, e os planos de fundo variam, há uma maior probabilidade do suspeito inocente ser escolhido.

As descobertas do estudo podem ajudar a reduzir os casos de identificação errada, que poderiam levar a condenações injustas. Garantir que as testemunhas escolham um suspeito porque reconhecem o rosto, e não porque há disparidades na maneira como as fotografias são apresentadas, poderia ajudar a reduzir a identificação falsa de suspeitos inocentes.

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