Surpresa em Espanha obriga Montenegro e Ventura a repensar planos

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Rodrigo Antunes / Lusa

O presidente do PSD, Luís Montenegro

A rejeição dos eleitores espanhóis a uma aliança entre o PP e o Vox está a ser entendida como um aviso para quem sonhava com uma coligação semelhante entre o PSD e o Chega.

Já durante a campanha se falava que o PSD estava de olho na situação política em Espanha para tentar tirar algumas lições sobre a sua própria estratégia eleitoral.

No país vizinho, as sondagens indicavam que seria mesmo o fim do Governo socialista do PSOE e que o PP, de centro-direita, iria vencer e conseguiria a maioria absoluta com o apoio do Vox, de extrema-direita.

Mas o último domingo trouxe um choque de realidade para os sociais-democratas que tinham a esperança de poder fazer o mesmo com o Chega em Portugal. O PP venceu, mas o Vox foi severamente castigado pelos eleitores, tendo perdido 19 deputados e ficado impossibilitado de chegar ao poder.

Apesar de ter ficado em segundo e de as sondagens preverem um resultado desastroso, o PSOE conseguiu até um melhor resultado do que nas últimas legislativas, somando mais dois deputados ao seu grupo parlamentar.

Sánchez também parece ter mais possibilidades de formar Governo, tendo a coligação esquerdista SUMAR já sinalizado que está disponível para apoiar um Governo do PSOE.

Repete-se assim o cenário das legislativas por cá em 2015, quando a coligação PSD e CDS venceu as eleições, mas foi o PS quem ficou na pole position para formar Governo, tendo nascido a “geringonça”.

As eleições em Espanha podem assim servir de aviso a quem sonha com uma coligação entre o PSD e o Chega à direita e ser um seguro de vida para a esquerda, que beneficia do voto útil dos eleitores quem não categoricamente não querem a extrema-direita no poder.

Montenegro arrisca assim cair na mesma armadilha de Alberto Feijóo e de Rui Rio, que nas legislativas de 2022 também manteve uma posição ambígua sobre o Chega e foi depois fustigado nas urnas.

Por enquanto, Montenegro tem seguido uma estratégia semelhante, chutando para a campanha eleitoral a resposta taxativa sobre uma aliança com o Chega. O objectivo é que, até lá, a pressão do voto útil faça o Chega perder gás, podendo os sociais-democratas depois atacar ao mostrarem-se como a única alternativa viável ao PS e caracterizando um voto em Ventura como um voto desperdiçado.

No entanto, caso o crescimento do Chega não dê sinais de abrandar, o PSD tinha esperança que, se uma aliança PP-Vox se concretizasse e garantisse estabilidade, o exemplo espanhol pudesse ajudar a matar o receio do eleitorado português em dar as chaves do poder à extrema-direita, dando carta branca aos sociais-democratas para se juntarem a Ventura.

“A grande lição que se retira é que, quando se chega ao momento de votar e da campanha eleitoral, deve haver clareza para os cenários pós-eleitorais. [Além disso], é cada vez mais importante votar em quer que se ganhe. [Caso contrário], os eleitores arriscam-se a estar sujeitos ao impasse e à tal chantagem de partidos muito mais pequenos, com uma força desproporcional”, explica ao Observador o vice-presidente do PSD, António Amaro Leitão.

O social-democrata Duarte Pacheco reconhece que, para se afirmar com a melhor alternativa aos socialistas, o PSD tem de fechar definitivamente a porta ao Chega. “O PSD tem que ser claro, temos que dizer que queremos governar – sem precisar do Chega. O CDS-PP é o nosso parceiro tradicional e temos também ponte de diálogo fortes com a IL. É isso que temos que mostrar ao eleitorado”, afirma ao Expresso.

Chega atento ao desaire de Abascal

No Chega, também há lições a retirar da grande derrota do Vox. Já a antecipar que o PSD siga uma estratégia futura semelhante à do PP, Diogo Pacheco de Amorim sacode as culpas do Vox. “O grande derrotado foi o PP, que fica incapacitado [de governar]. Havia uma vaga de fundo que queria correr com o PSOE e Feijóo não conseguiu surfar essa onda”, explica o deputado do Chega.

“A campanha eleitoral do PP não terá sido a mais indicada porque foi canibalizar o espaço da direita. O caminho deve ser o jogo de soma positiva: o centro-direita deve deixar a direita a cobrir o eleitorado da direita e lutar pelos votos do centro”, argumenta, deixando um conselho velado ao PSD.

Uma fonte do partido adianta ao Observador que tinham esperanças de receber um “empurrão” de Espanha. “Um bom resultado do Vox dava um empurrão à direita, não só em Espanha, mas também em Portugal. Era mais um sinal. É óbvio que um bom resultado tinha sido positivo para nós”, assume.

Sobre se a estratégia futura deve passar por uma maior moderação do discurso, há dúvidas. “Quando se começa a sair da linha normal do partido — a tentar aproximar-se dos moderados e a piscar o olho a uma direita mais ao centro – acaba por se desiludir o eleitorado base. A moderação é boa, mas podemos correr o risco de não conseguir e perdemos a nossa base eleitoral”, reconhece a fonte.

Adriana Peixoto, ZAP //

10 Comments

  1. É completamente ridículo comparar PP+Vox com PSD+Chega. E a IL onde fica? Na extrema esquerda?
    O Simplismo é filho do pior Marxismo mesmo!

  2. Deus nos livre destes extremistas do chega! Só servem de fazer ruido e propostas políticas são zero! A única coisa que fazem é estar contra, seja bom ou mau!

  3. O Presidente Rui Rio não caiu numa «…posição ambígua sobre o Chega…», isso é mentira e basta ler/ouvir as suas declarações relativamente a essa questão, nem «…foi depois fustigado nas urnas…»; o mau resultado que o Presidente Rui Rio obteve nas Eleições Legislativas de 2022 deveu-se ao facto da facção liberal/maçónica do Partido Social Democrata (PSD) ter votado contra o próprio partido – esquema esse que já tinha sido posto em prática na Região Autónoma da Madeira (RAM) -, às pulhices que internamente lhe fizeram dando uma má imagem do PSD provocando assim o afastamento da Maioria Silenciosa dos Portugueses representados pela Abstenção, e o facto de existir fraude nas Eleições em Portugal com Estrangeiros a votar.

  4. Sim, para eles isso é um acto de sobrevivência.
    Só que pode ser um governo PSD+IL e Chega a abster-se.

  5. Tenha noção de que o PS e todos aqueles que, no seu entender, são marxistas, estão em maioria neste país, não sendo por acaso que o PS tem uma maioria absoluta, por isso, faça-nos um favor a todos, feche essa matraca, mostrando dessa forma algum respeito para com os outros que não pensam da sua maneira, abstendo-se assim de insultar a maioria democrática deste país, que certamente passaria muito melhor sem pessoas como você.

  6. Tenha noção de que o amigo é apenas um distraído emproado. E se fosse como diz, como explica as maiorias de Cavaco ou o facto de ter um presidente da república do PSD?!

  7. Em resposta ao B.S. – Está completamente errado. 2,5 milhões de votos em cerca de 9 milhões de eleitores, não é uma maioria nem tão pouco lá perto. E quanto ao respeito é só para rir, tendo em conta que Costa perdeu as eleições em 2015 e no entanto tornou-se primeiro ministro.

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