O Sri Lanka decidiu proibir os fertilizantes químicos sem preparar os agricultores, provocando um aumento dos preços e desencadeando uma série de preocupações relacionadas com a escassez de alimentos.
O regresso do Sri Lanka à agricultura biológica – uma campanha governamental impulsionada por preocupações relacionadas com a saúde – durou apenas sete meses, mas foi o suficiente para causar estragos consideráveis.
Agricultores e especialistas agrícolas culpam o Governo pela queda acentuada no rendimento das colheitas e pelos preços que estão a agravar a economia já penalizada do país, além de levantar preocupações relacionadas com a escassez.
Segundo o The New York Times, os preços de alguns alimentos, como o arroz, subiram quase um terço em comparação com o ano anterior. Dados do banco central do Sri Lanka revelam ainda que o preço do tomate e da cenoura, por exemplo, quintuplicou.
Agora, o Governo do país está numa corrida contra o tempo para evitar uma crise. Em novembro, o ministro da Agricultura do Sri Lanka, Ramesh Pathirana, confirmou uma inversão parcial da política.
De acordo com o governante, o Executivo vai importar os fertilizantes necessários para o cultivo de chá e coco, por exemplo, dois dos produtos que constituem as principais exportações agrícolas do país.
“Iremos importar fertilizantes em função das necessidades do país”, disse ao diário norte-americano. “Não temos fertilizantes químicos suficientes porque não os importamos. Há uma escassez.”
É verdade que o mundo inteiro está a braços com um aumento no custo dos alimentos, à medida que os contratempos da cadeia de abastecimento impulsionados pela pandemia são lentamente resolvidos. Contudo, o Sri Lanka agravou essas pressões com os seus próprios passos em falso.
Economia estrangulada
Os fertilizantes químicos são essenciais para a agricultura moderna, mas os governos e os grupos ambientalistas têm vindo a demonstrar cautela perante a sua utilização excessiva. Além de serem poluentes, os cientistas têm encontrado riscos acrescidos de cancro do cólon, rins e estômago devido à exposição excessiva a nitratos.
Foi pelos impactos adversos na saúde e no ambiente que o Presidente Gotabaya Rajapaksa proibiu a importação de fertilizantes químicos em abril, uma promessa que tinha feito durante a sua campanha eleitoral em 2019.
Os críticos da medida têm outra preocupação: as reservas económicas do país, que estão em declínio acentuado.
Além dos prejuízos causados pela pandemia, a moeda nacional, a rupia, perdeu cerca de um quinto do seu valor, limitando a capacidade do Sri Lanka de comprar alimentos e abastecimentos no estrangeiro num momento em que os preços aumentavam.
Consequentemente, a situação contribuiu para agravar os problemas relacionados com a enorme carga de endividamento, incluindo empréstimos com juros elevados de bancos estatais chineses que lhe exigiam que contraísse ainda mais empréstimos.
“Os danos são tanto na agricultura como nas exportações relacionadas com a agricultura”, disse W. A. Wijewardena, antigo vice-governador do banco central do Sri Lanka, acrescentando “que vai demorar algum tempo até o país recuperar”.