A solidão é cansativa. O isolamento (literalmente) cansa-nos, dizem os cientistas

Cansado de estar sozinho? Não é o único. Novas descobertas revelam que o isolamento social pode de facto esgotar a nossa energia e levar-nos ao cansaço.

Num estudo publicado na revista Psychological Science, cientistas da Universidade de Viena, na Áustria, concluíram que as pessoas relatam níveis mais elevados de cansaço após oito horas de isolamento social.

A investigação ocorreu num ambiente de laboratório, assemelhando-se aos isolamentos feitos durante a pandemia. Os autores acreditam que as descobertas sugerem que o corpo humano pode naturalmente baixar os níveis de energia em resposta ao isolamento social.

É importante notar, no entanto, que essa resposta variou com base em traços individuais de personalidade dos participantes.

Todos precisamos de comida. Se não comermos durante muito tempo, o nosso corpo responde com uma série de processos biológicos que criam a sensação de avidez tipicamente conhecida como fome. Para além do simples sustento, como espécie social, precisamos também de outras pessoas para sobreviver.

As provas científicas mostram que quando não vemos outros durante muito tempo, isso induz uma resposta de desejo no nosso cérebro comparável à fome, motivando-nos a restabelecer as ligações.

Uma teoria, chamada de homeostase social, sugere que existe um sistema homeostático encarregado de regular a necessidade humana de contacto social. Ainda assim, a ciência moderna compreende muito pouco quando se trata das respostas psicológicas ao isolamento social.

Durante a experiência, liderada por Giorgia Silani, 30 participantes do sexo feminino entraram no laboratório em três dias separados e passaram oito horas sem qualquer contacto social ou sem comida, ou tanto sem contacto social como sem comida.

Em vários momentos ao longo desse período, a equipa pediu a cada participante para avaliar o seu nível de stress, humor e fadiga, enquanto os investigadores registaram respostas fisiológicas, tais como frequência cardíaca e níveis de cortisol.

Em seguida, para validar os resultados da experiência laboratorial, compararam esses dados com informações de um estudo realizado durante o isolamento na Áustria e em Itália, na primavera de 2020. Esse estudo contou com 87 participantes que passaram pelo menos um período de oito horas isolados.

“No estudo de laboratório, encontramos semelhanças notáveis entre o isolamento social e a privação alimentar. Ambos os estados induziram uma diminuição da energia e um aumento da fadiga, o que é surpreendente dado que a privação alimentar nos faz literalmente perder energia, enquanto que o isolamento social não o faria”, disseram autores Ana Stijovic e Paul Forbes num comunicado de imprensa.

Os participantes que viviam sozinhos durante os confinamentos e que eram mais sociáveis, tendiam a reportar menos energia nos dias em que estavam isolados. Para além de se sentirem letárgicos, a falta prolongada de contacto social poderia resultar em efeitos ainda mais prejudiciais.

“É sabido que a solidão a longo prazo e o cansaço estão relacionados, mas sabemos pouco sobre os mecanismos que subjacentes a esta ligação. O facto de vermos este efeito mesmo após um curto período de isolamento social sugere que a baixa energia pode ser uma resposta ‘homeostática social’ adaptativa, que a longo prazo pode tornar-se desadaptada”, explicou Giorgia Silani.

Uma vez que tanto os fatores contextuais como de personalidade modulam o efeito do isolamento social sobre a fadiga, a equipa de investigação indicou que os futuros estudos devem concentrar-se na identificação dos indivíduos que correm mais risco de sofrer com os efeitos do isolamento.

ZAP //

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