Kosovo adia a entrada em vigor de novas regras na fronteira com a Sérvia por um mês, depois de terem causado tensões no domingo.
O Kosovo decidiu adiar por um mês a entrada em vigor de novas regras na fronteira com a Sérvia, que causaram tensões no domingo, no norte do país, onde foram erguidas barricadas e disparados tiros contra a polícia.
Três pessoas terão ficado feridas, quando foram disparados tiros na passagem fronteiriça entre Mitrovica (Kosovo) e Novi Pazar (Sérvia), segundo o Albanian News Daily, que cita a imprensa local. Os feridos, que foram levados para o hospital em Mitrovica, são um polícia e dois civis sérvios.
O adiamento das novas regras foi anunciado num comunicado governamental, após uma reunião com o embaixador dos EUA no Kosovo, Jeffrey Honevier.
As novas regras, que deveriam entrar em vigor esta segunda-feira, preveem que qualquer pessoa que entre no Kosovo com um cartão de identificação sérvio fique com um documento temporário enquanto estiver no país.
Pristina também tinha dado aos sérvios do Kosovo dois meses para substituir as placas de matrícula sérvias nos seus veículos por placas da República do Kosovo.
Os sérvios do Norte do Kosovo têm usado as matrículas emitidas pelas instituições sérvias desde a guerra de 1999, com letras identificativas das cidades, o KM para Kosovska Mitrovica, PR para Pristina e UR para Urosevac (Ferizaj em albanês). O Kosovo quer agora que todas essas matrículas sejam trocadas pelas emitidas pelas autoridades kosovares, segundo o Público.
O fecho das fronteiras deveu-se às ações dos sérvios do Kosovo que bloquearam com camiões a estrada principal que leva à fronteira de Jarinja.
De acordo com a Rádio Free Europe, também em Rudar i Madh (Veliko Rudare em sérvio), a estrada principal que liga Pristina, a capital kosovar, à vila sérvia de Ráscia, foi bloqueada.
Albin Kurti, o primeiro-ministro do Kosovo, sublinhou no domingo que se tratava de uma medida recíproca, pois a Sérvia – que não reconhece a independência da antiga província de maioria albanesa proclamada em 2008 – exige o mesmo dos kosovares que entram no território.
As medidas provocaram tensões no domingo no norte do Kosovo, onde vive uma minoria sérvia. A polícia kosovar disse ter sido alvejada, sem que ninguém tenha sido ferido, e foram erguidas barricadas nas estradas que conduzem à Sérvia.
Em comunicado, o Governo kosovar exigiu que “todas as barricadas fossem removidas e a plena liberdade de movimento restaurada” na segunda-feira.
Besim Hoti, da polícia do Kosovo, contou à Radio Free Europe que as sirenes soaram. “É sabido que os sérvios se juntam sempre que ouvem as sirenes, porque isto sempre quis dizer que é preciso responder a um perigo“, realçou um manifestante sérvio à Radio Free Europe em Rudar.
“Foi inesperado e ao mesmo tempo, de alguma maneira, esperado. Juntamo-nos em protesto contra a decisão do Governo de Albin Kurti em relação aos documentos de identidade e as matrículas”, informou.
Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, saudou a decisão de Pristina numa publicação no Twitter no domingo à noite, apelando para o “levantamento imediato de todos os bloqueios de estrada”.
Welcome Kosovo decision to move measures to 1 September. Expect all roadblocks to be removed immediately.
Open issues should be addressed through EU-facilitated Dialogue&focus on comprehensive normalisation of relations btwn Kosovo&Serbia, essential for their EU integration paths— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) July 31, 2022
Os sérvios do Kosovo não reconhecem a autoridade de Pristina nem a independência do Kosovo e permanecem leais a Belgrado, do qual dependem financeiramente.
Num discurso à nação no domingo, o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, afirmou que a situação no Kosovo “nunca tinha sido tão complexa” para a Sérvia e para os sérvios que lá vivem.
Deixou ainda ameaças aos kosovares, caso pretendam avançar com as suas exigências em relação aos sérvios. “Se não quiserem manter a paz, garanto, a Sérvia ganhará”, garantiu, citado pela N1 TV.
“Não acho que tenhamos estado antes numa situação tão difícil e complicada como a de hoje. Porque digo isso? O regime de Pristina tenta, apresentando-se como vítima, explorar os ânimos do mundo”, explicou o chefe de Estado sérvio.
“As próximas horas, dias e semanas podem ser desafiadoras e problemáticos. Estamos a enfrentar o nacional-chauvinismo sérvio que conhecemos muito bem”, refutou Albin Kurti.
“Não há qualquer possibilidade de desestabilização porque as nossas decisões são legítimas e legais. Aqueles que falam de violência, aqueles que falam de bloqueios, aqueles que falam de desestabilização, aqueles que falam de tensões, estão a falar por eles. Não falam de nós”, acrescentou o primeiro-ministro.