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Mistério médico. Cérebros de veteranos desvendam segredos sobre a síndrome da Guerra do Golfo

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Trinta anos depois, a síndrome da Guerra do Golfo continua a ser um mistério médico. Porém, um novo estudo do Centro Médico da Universidade de Georgetown lança luz sobre esta misteriosa doença. 

Quase um terço dos 700 mil soldados norte-americanos e aliados que participaram na Guerra do Golfo Pérsico de 1990-1991 contra o Iraque de Saddam Hussein experimentam uma série incomum de sintomas, incluindo fadiga, dores musculares, “névoa cerebral”, dores de cabeça, problemas cognitivos, insónia, e problemas digestivos.

Embora a causa subjacente da doença ainda seja nebulosa, um novo estudo do Centro Médico da Universidade de Georgetown ajudou a acabar com a velha crença de que a doença da Guerra do Golfo (GWI) é o mesmo que a síndrome da fadiga crónica (SFC).

As duas doenças partilham alguns sintomas: problemas com a função cognitiva, “névoa cerebral”, problemas de memória, dor e fadiga após o exercício.

No entanto, scans cerebrais recentes revelaram que pessoas com as duas condições apresentam atividades neurais muito diferentes ao realizar testes de memória após exercício.

Neste novo estudo, os cientistas do Centro Médico da Universidade de Georgetown focaram-se nas diferenças entre as duas condições e descobriram que os veteranos com GWI mostraram diminuição da atividade cerebral na região periaquedutal cinzenta – uma região de processamento da dor – e numa parte do cérebro responsável pelo controlo motor, cognição, dor e emoção. Já pessoas com SFC tiveram atividade aumentada na região periaquedutal cinzenta e partes do cérebro responsáveis pela vigilância e atenção.

“Agora que foi demonstrado que CFS e GWI afetam diferentes regiões do cérebro, estas regiões podem ser examinadas mais de perto usando neuroimagem e outras técnicas para aprofundar a nossa compreensão das semelhanças e diferenças entre as duas doenças”, disse James Baraniuk, professor de medicina em Georgetown, em comunicado divulgado pelo EurekAlert. “Quando estas novas informações forem amplamente adotadas, os diagnósticos e tratamentos para ambos os transtornos devem melhorar”.

Este estudo foi publicado este mês na revista científica Brain Communications.

Um estudo anterior, publicado em 2017, realizado pela mesma equipa de investigadores também sugeria que as duas doenças são condições distintas.

A Guerra do Golfo Pérsico começou em agosto de 1990, depois de o líder iraquiano Saddam Hussein ter invadido o país vizinho Kuwait, rico em petróleo, a fim de pagar as enormes dívidas acumuladas durante a Guerra Irão-Iraque. A medida foi recebida com condenação internacional, levando os Estados Unidos, o Reino Unido e outras nações a iniciarem um conflito militar contra o Iraque.

Uma das imagens definidoras da guerra foram os incêndios de petróleo no Kuwait, nos quais o exército iraquiano ateou fogo a centenas de poços de petróleo enquanto se retirava do território em 1991. Este evento e a exposição a produtos químicos são frequentemente considerados os principais suspeitos no desenvolvimento da síndrome da Guerra do Golfo.

Em 2003, a Organização Europeia de Biologia Molecular observou que a condição tem sido “associada à exposição a urânio empobrecido, pesticidas, vacinas, partículas e gases de poços de petróleo em chamas, armas biológicas e químicas e o medicamento anti-gás nervoso brometo de piridostigmina (PB)”.

Porém, os investigadores ainda estão a tentar chegar a um acordo sobre a causa subjacente da doença. Alguns indicaram que o transtorno de stresse pós-traumático (PTSD) pode estar ligado a alguns aspetos da doença, embora os veteranos da Guerra do Golfo mostrem sintomas extremamente diferentes daqueles que serviram noutras guerras antes e depois.

A falta de conhecimento científico significa que as pessoas com a síndrome da Guerra do Golfo costumam ser mal diagnosticadas e a sua doença permanece amplamente mal compreendida.

ZAP //

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