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No século XIX, os ingleses morriam (literalmente) pelo seu amor à cor verde

Embroidery woman de Georg Friedrich Kersting / Wikimedia

Os ingleses eram obcecados por um papel de parede com um tom de verde específico cuja tinta era feita com arsénico.

A era vitoriana inglesa continua a inspirar muito fascínio nos dias de hoje, mas nem sempre por bons motivos. Seja a afeição especial dos vitorianos pelo trabalho infantil, passando por receitas perigosas de pão com detergentes e maquilhagem feita com chumbo, há certos hábitos da época que devemos estar gratos por terem sido deixados no passado.

Uma destas tradições arriscadas baseou-se no amor inexplicável dos vitorianos pelo verde. Durante décadas, os ingleses envenenaram-se até à morte devido à sua paixão por esta cor, relata o IFLScience.

Em meados do século XIX, quatro crianças de um bairro de Londres ficaram doentes, tendo as gargantas doridas e problemas respiratórios. Foram diagnosticadas com difteria, mas os médicos não entendiam como tinham contraído a doença.

As crianças acabaram por morrer antes que a explicação fosse descoberta. O culpado era, nada mais nada menos, do que papel de parede verde dos seus pais.

Este não foi o único caso. Em 1857, o médico William Hinds começou a sentir-se enjoado e com dores de barriga todas as noites quando regressava a casa do trabalho. A indisposição passava misteriosamente quando ia dormir

A causa desta má-disposição repentina também intrigou o clínico, que depois se apercebeu de que só começou a adoecer depois de ter forrado o seu escritório com um papel de parede verde.

Quando o removeu, Hinds reparou que a sua saúde melhorou significativamente. O médico partilhou as suas suspeitas com as autoridades de saúde pública e fez testes que comprovaram a presença de arsénico na tinta do papel de parede.

O que é que havia neste papel de parede que o tornava tão perigoso? Criado em 1775 na Suécia por Karl Willheim Scheele, a receita da tinta verde predilecta dos ingleses continha cobre e arsénico e era quase tão venenosa como popular.

Com o passar do tempo, a tinta começava a estalar e a libertar gases arsénicos dentro das casas, envenenando lentamente os habitantes das casas. Num caso mais grave, houve crianças que morreram pouco tempo depois de lamberem o papel.

As más notícias não ficam por aqui. Quando os boatos sobre os perigos do verde de Scheele se começaram a espalhar, os ingleses trocaram-no pelo verde Paris. O problema? Esta tinta também era feita com arsénico.

Apesar de terem enfrentado a oposição da indústria e de pessoas que acreditavam que estariam seguros se evitassem lamber diretamente o papel de parede, os médicos conseguiram convencer grande parte da população a abandonar a tinta verde com o passar dos anos.

Adriana Peixoto, ZAP //

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