Sensibilidade a alimentos amargos associada à bipolaridade

Faz caretas quando prova algo amargo? Um novo estudo estabeleceu ligação entre a sensibilidade alimentar e, entre outras doenças, a perturbação bipolar.

Se tem aversão a sabores amargos, é considerado um “superdegustador”. Cerca de 25% das pessoas tem o código genético que desencadeia esta sensibilidade.

Isto aparenta ser um superpoder. No entanto, um estudo publicado na semana passada no European Journal of Nutrition revelou que esta idiossincrasia está ligada a “resultados de saúde negativos”.

Os investigadores da Universidade de Queensland descobriram uma ligação surpreendente entre pessoas que possuem duas cópias funcionais do gene TAS2R38 e a probabilidade de função renal deficiente e/ou prevalência de perturbação bipolar.

Como explica a New Atlas, todos temos duas cópias do gene do gosto amargo, uma herdada de cada progenitor, mas apenas cerca de 20 a 25% da população tem ambas as cópias como ADN “funcional”.

Dentro deste grupo, os investigadores identificaram três pequenas mutações – conhecidas como polimorfismos de nucleótido único (SNPs) – que aumentam a probabilidade de serem afetados por doenças renais e de saúde mental.

“O TAS2R38 controla a intensidade com que sentimos o amargo em alimentos como brócolos e couves-de-bruxelas – tornando-os extremamente amargos para algumas pessoas”, explicou à New Atlas o líder da investigação, Daniel Hwang.

“Se transporta duas cópias do gene, é altamente sensível a compostos químicos amargos como o feniltiocarbamida e o propiltiouracilo”, acrescentou.

O genótipo TAS2R38 tem também sido associado ao risco de várias doenças crónicas, como obesidade, doenças cardiometabólicas e cancro colorrectal, possivelmente através da sua influência na ingestão alimentar.

Neste estudo, os investigadores centraram-se nestas três “variantes de interesse” dentro de pares funcionais de genes TAS2R38, utilizando uma amostra de 445.779 indivíduos da base de dados UK Biobank, com idades entre 37 e 73 anos, e outros 161.625 participantes em estudos de associação genómica ampla.

Como detalham os cientistas, a associação mais forte na análise exploratória fenómica foi com a perturbação bipolar, estando os alelos sensíveis ao amargo associados a um aumento de 10% na probabilidade de ter esta condição, num estudo com 7.647 casos e 27.303 controlos”, notaram os investigadores.

A segunda associação mais forte na análise exploratória foi entre os alelos sensíveis ao amargo e níveis mais elevados de creatinina no soro, um biomarcador de toxicidade renal e função renal deficiente. Notavelmente, os alelos sensíveis ao amargo também estavam nominalmente associados a doenças renais crónicas e a vários marcadores de saúde renal, incluindo níveis urinários de betaína de prolina, taxa de filtração glomerular, proteína não-albumina no soro e níveis de glucose 2 horas após um teste oral de tolerância à glucose.

“As pessoas com o gene são mais sensíveis ao sabor salgado – têm menos tendência para adicionar sal extra porque os alimentos já lhes sabem suficientemente salgados”, afirmou Hwang.

O estudo não prova, contudo, uma relação de causa-efeito – mas esta ligação acrescenta-se ao crescente corpo de evidência de que estes recetores do gosto amargo têm impactos biológicos mais complexos do que simplesmente ajudar os humanos caçadores-recoletores a evitar toxinas vegetais potenciais.

Importante mecanismo de alerta

Os recetores do gosto amargo (conhecidos como TAS2Rs) podem ser encontrados por todo o corpo, nos pulmões, intestino, trato urinário e boca.

E existe uma razão evolutiva para a sua preservação – o amargor é frequentemente uma característica típica de venenos, pelo que evitar alimentos de sabor amargo funciona como um sistema de segurança inato.

Recentemente, novas investigações revelaram como estes recetores do gosto amargo – dos quais cerca de 25 diferentes foram identificados – podem, na verdade, desempenhar um papel no envelhecimento saudável.

ZAP //

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