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Enquanto a maioria apostava nas contratações durante a pandemia, a empresa fundada por Steve Jobs evitou essa via.
A Apple está a recorrer a todos os métodos possíveis para cortar custos e, desta forma, evitar despedir funcionários. Uma dessas tentativas inclui, por exemplo, a disponibilização de um vendedor na loja online, mas também o lançamento da próxima versão do iOS. O objetivo passa por evitar o caminho seguido por muitas das suas rivais tecnológicas, o qual seria muito difícil de justificar para a marca da maçã.
Isto porque, ao contrário de outras empresas, a Apple ainda é muito rentável, com receitas na ordem dos 30 mil milhões de dólares no último trimestre. Mais: a empresa está avaliada em 165 mil milhões de dólares, pelo que tem uma reputação de estabilidade a proteger.
Para além destes factores, a Apple não está a atravessar um momento particularmente negativo: as ações da empresa subiram cerca de 20% este ano e espera-se que daqui a três meses, espera-se que a direção revele uns fones de realidade mista e um novo sistema operativo, uma plataforma que a empresa espera que perspetive o pós-iPhone.
Tudo isto significa que os despedimentos da Apple seriam prejudiciais à moral da empresa e à percepção pública da mesma.
Como destaca a Bloomberg, os altos executivos da Apple são vistos como algumas das mentes mais tácticas da indústria. Anunciar uma vaga de despedimentos seria sinónimo de admitir um erro estratégico ou que a economia global está pior do que as pessoas temiam.
Mas há mais diferenças a apontar entre a gestão da Apple e das restantes tecnológicas. Enquanto a maioria apostava nas contratações durante a pandemia, a empresa fundada por Steve Jobs evitou essa via.
A Meta, por exemplo, abraçou o metaverso, gastando milhares de milhões num projeto que tarda em dar frutos. A Amazon, Microsoft e Google, da mesma forma, enveredaram por mercados incertos para além das suas principais áreas de atividade.
Há ainda que reconhecer a existência de outros fatores, fora da sua esfera de controlo, como o aumento das taxas de juro, as flutuações monetárias e a guerra na Ucrânia – para não mencionar a pandemia persistente.
Mas os últimos meses da Apple não se fazem só de boas notícias. As vendas caíram 5% no último trimestre e números semelhantes são esperados no atual período. Mesmo assim, é das tecnológicas em melhor posição para resistir à queda.
Resumindo, a empresa está a lutar para conter os custos e tornar a sua manutenção mais eficiente – um processo que começou no Verão passado, mais cedo do que os esforços de outras grandes empresas.
Entre as medidas implementadas, destacam-se o atraso no pagamento dos prémios para as equipas que anteriormente os recebiam duas vezes por ano. Agora, esses colaboradores receberão todo o seu bónus em outubro, de acordo com o calendário da maioria dos colegas. Desta forna, a Apple consegue manter esse dinheiro no seu domínio um pouco mais de tempo.
Simultaneamente, alguns lançamentos foram adiados até ao próximo ano, no mínimo. Isto permite à Apple dedicar o seu orçamento de investigação e desenvolvimento a projetos mais urgentes.
Em termos de gestão, a empresa reduziu os orçamentos em vários departamentos, vigorando atualmente a necessidade de aprovação do vice-presidente sénior para a criação de mais produtos.
Nos últimos meses assistiu-se ainda a uma paralisação nos processos de recrutamento de algumas equipas e a limitação nos contratos de outras. Por exemplo, quando alguns funcionários saíam da empresa ou transitavam para outros cargos, a posição original era mantida vaga.
Os orçamentos para viagem também foram significativamente reduzidos, sendo que têm de ser aprovados previamente pelos executivos seniores. Para alguns departamentos, as viagens foram completamente proibidas, pelo menos num futuro futuro próximo e exceptuando razões críticas.
Os gestores tornaram-se mais rigorosos do que nunca no que diz respeito à frequência de escritórios – espera-se normalmente que os empregados estejam presentes às terças, quartas e quintas-feiras – e alguns trabalhadores acreditam que isto é um argumento para a empresa despedir funcionários que não cumprem o requisito.
No retalho, a Apple está mais atenta à assiduidade e às horas de trabalho, o que tem suscitado preocupações. Em alguns casos, os trabalhadores temem ser despedidos se não conseguirem prefazer um determinado número de horas. Alguns funcionários também acreditam que a Apple está a adotar uma postura mais dura para conseguir que os funcionários se demitam, poupando dinheiro à empresa.
Os funcionários das lojas também dizem, em alguns casos, que se telefonarem para avisar que estão doentes ou indisponíveis por outras razões, a Apple não permite que as horas sejam repostas.
Embora algumas destas mudanças tenham perturbado os funcionários, estas são claramente suaves face ao que muitas empresas têm feito. Em conjunto, os principais rivais da Apple despediram mais de 50.000 pessoas nos últimos meses, o que equivale a quase metade da força de trabalho empresarial da Apple.
Até agora, os passos da Apple têm alcançado bons resultados: as despesas operacionais durante o trimestre festivo de 2022 ficaram muito abaixo da orientação da empresa.
A partir de agora, parece improvável que a Apple faça despedimentos, mas os últimos três anos mostraram que o mundo é imprevisível . O próprio Cook disse que os despedimentos na Apple seriam um “último recurso“. Mas enquanto perito em relações públicas, o responsável foi rápido em admitir a hipótese.