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Afastada da cidade de Coimbra, uma casa abandonada, foi reabilitada por sem-abrigo, com a ajuda de uma organização não-governamental, tendo-se já transformado num espaço onde as pessoas podem “refazer as suas vidas”.
À entrada da casa, encontra-se Rui, desempregado há mais de três anos, que entrelaça uma fita vermelha na cerca feita de ramos de acácias que crescem ali perto, falando de projetos para a casa e das melhorias que têm de ser feitas, “com calma”.
Apesar de muita coisa que ainda falta à casa, está satisfeito. “Ao menos, aqui estou entretido e sossegado. Há comer na horta e o ambiente é mais saudável que na baixa de Coimbra”, afirmou, recordando ainda que a relação com a vizinhança “é do melhor que há”.
“Gosto de estar aqui. Estou à vontade e ao ar livre”, sublinhou, Carlos, outro dos homens a viver na habitação.
Desde que a organização não-governamental Hemisférios Solidários e dois sem-abrigo começaram a reconstruir a casa, em novembro de 2013, muita coisa mudou.
“No início, era mato, silvas e umas paredes em colapso”, recorda Eduardo Marques, diretor da Hemisférios Solidários. Hoje, a casa encontra-se com camas, fogão, armários, estantes, um galinheiro e até uma pequena horta à beira da moradia.
A casa partiu da necessidade da organização não-governamental Hemisférios Solidários de “encontrar respostas habitacionais” para sem-abrigo, frisou Eduardo Marques, diretor da organização, referindo que, “apesar de a casa não ter as condições ideais, é um sítio que ajuda na estabilização das pessoas” que ali habitam.
“Há como que um retomar do controlo sobre as suas próprias vidas”, explicou, sublinhando que não há imposições nem regras e são as pessoas que habitam a casa “que encontram formas de autogestão e de melhoria do seu quotidiano”.
Da horta, João, antigo sem-abrigo que está no projeto desde o seu início, já conseguiu tirar batatas, couves, courgettes, cebolas e feijão-verde, assim como milho e girassol, “para alimentar as galinhas”.
Conta que há vontade de expandir a horta, num terreno que teve de ser revolvido a picareta e sacho: “vamos escavando a pouco e pouco e qualquer dia isto fica uma quinta”.
Na casa, João é “eletricista, canalizador, pintor, agricultor e carpinteiro”, admitindo que, “se pudesse, ficava a vida toda” a morar naquela casa.
“Aqui, guardam-se as coisinhas. Na rua, roubam tudo”, salientou, afirmando que a vida em comunidade também “ajuda”.
O próximo passo “é fazer a casa de banho”, referiu, estando também a construir, juntamente com os seus colegas, um anexo ao lado da casa para ferramentas e arrumação.
Além da casa de banho, Rui frisa ainda que seria importante “conseguir ter água e luz na casa”. Contudo, há sempre “o medo de se investir para um dia, mais tarde, perder-se tudo”, disse, explicando que a casa abandonada pertence a um banco.
Por agora, a água é dada por moradores que habitam perto da casa, como António Pereira, a viver há 40 anos naquela zona e que diz fazer “aquilo que o Governo não faz”, salientando a “amizade” que reina entre a vizinhança.
/Lusa
