Os segredos dos “Vingadores” do TikTok — que influenciam os Governos ocidentais há anos

Desde 2018 que o TikTok tem recrutado uma rede de lobistas que procuram influenciar os Governos ocidentais em favor da aplicação. A empresa já conseguiu contrarar firmas próximas da administração Biden.

Nos últimos meses, têm-se multiplicado as notícias sobre países ocidentais que proíbem a instalação do TikTok nos telemóveis de funcionários do Governo e sobre as preocupações com a recolha de dados feita pela aplicação.

Os receios têm até ressuscitado os rumores sobre proibições totais do TikTok, que pareciam ter acalmado após a saída de Donald Trump da Casa Branca, que notoriamente ameaçou banir a aplicação nos Estados Unidos como parte da sua “guerra” contra a China.

Mas por enquanto, não há indicações de que estas proibições estejam para breve. E isto não é uma coincidência.

De acordo com uma investigação do Politico, a guerra para salvar o TikTok começou muito antes das batalhas actuais e já desde 2018 que a ByteDance, a empresa que detém a aplicação, está a preparar a sua artilharia.

O afinco é tanto que o TikTok tem até o seu próprio grupo de super-heróis. Segundo um lobista americano, em 2019, um recruta da empresa chinesa que lhe ofereceu um emprego afirmou que o TikTok queria criar uma “equipa de Vingadores” — mas em vez salvar o mundo de vilões como Ultron ou Thanos, a sua missão seria influenciar os Governos ocidentais e garantir que a aplicação não é banida.

Um outro lobista que trabalhar para empresas da big tech revela que o TikTok está disposto a pagar para garantir o apoio de firmas influentes em Washington e que um destes “Vingadores” lhe terá perguntado directamente: “Quanto é que é preciso?“.

Se esta abordagem não resultou com este lobista, há muitos outros em Washington, Londres e Bruxelas dispostos a alinhar. Nos Estados Unidos, cerca de 30 pessoas fizeram lobby no Governo a favor da ByteDance no último trimestre de 2022, incluindo ex-Senadores e congressistas, de acordo com os relatórios de transparência.

No total, a empresa já gastou mais de 16 milhões de dólares desde 2019 em lobby ao Governo federal norte-americano. Este valor não inclui os investimentos com lobbys no plano estatal e com empresas de relações públicas.

Nos últimos meses, o TikTok também conseguiu finalmente contratar os serviços da SKDK, uma firma de relações públicas que emprega vários políticos que passaram pelo partido Democrata e que são próximos da administração Biden, depois de ter sido inicialmente rejeitado em 2020. Michael Leiter, ex-director do Centro Nacional de Contraterrorismo, também passou a integrar a sua equipa jurídica.

Mas as dúvidas persistem em Washington e a pressão sobre Biden para restringir a aplicação continua a crescer. Por enquanto, a empresa continua sem conseguir assegurar os legisladores de que as preocupações sobre o fornecimento de dados dos utilizadores do TikTok ao Governo da China — uma acusação que tem sido repetidamente rejeitada por Pequim e pela ByteDance — são infundadas.

O principal aliado da empresa nesta missão acaba mesmo por ser a popularidade do seu produto, que tem mais de 150 milhões de utilizadores nos Estados Unidos, sendo que muitos destes podem votar nas próximas eleições e manifestar o seu descontentamento caso a aplicação seja banida.

Uma fonte revela até que, em conversas privadas com os Democratas, a empresa comparou uma possível proibição do TikTok à “lei seca” que no início do século XX ilegalizou o álcool, equiparando o vício na aplicação ao vício na bebida. A proibição ao álcool durou 14 anos e foi muito contestada pelos eleitores, tendo causado também vários problemas de saúde pública devido à produção caseira ilegal de bebidas.

40 “vingadores” na Europa

A esfera de influência do TikTok não se limita aos Estados Unidos. No Velho Continente, cerca de 40 pessoas em Bruxelas, Londres, Dublin, Paris e Milan trabalham para defender os interesses da ByteDance.

Theo Bertram, um ex-lobista de topo da Google e conselheiro veterano dos ex-primeiros-ministros britânicos Tony Blair e Gordon Brown, foi escolhido a dadeo em 2019 para chefiar a estratégia europeia da empresa. No Outono de 2020, Caroline Greer, uma lobista com experiência no ramo das telecomunicações, assumiu a chefia da operação em Bruxelas.

Num comunicado enviado ao Politico, Brooke Oberwetter, porta-voz do TikTok, afirma que o objectivo é “educar os legisladores sobre a nossa empresa e o nosso serviço” e lembra que outras firmas tecnológicas gastam muito mais dinheiro para estes fins do que o TikTok.

“Planeamos continuar a informar os membros do Congresso sobre a nossa empresa e sobre os detalhes dos nossos planos robustos para responder às preocupações sobre a segurança nacional. Trabalhamos com legisladores de todo o espectro político em assuntos que são importantes para o nosso negócio e para a diversa e vibrante comunidade na nossa plataforma”, explica.

Adriana Peixoto, ZAP //

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