Os escribas do antigo Egito usavam chumbo para secar a tinta dos seus papiros, uma técnica muito semelhante à que era usada pelos pintores europeus da época do Renascimento.
Os escribas do antigo Egito utilizavam tinta preta e vermelha para escrever os famosos papiros. Com a primeira faziam o corpo principal do texto, enquanto que para destacar títulos, instruções ou palavras-chave recorriam à segunda.
Na última década, foram muitos os estudos científicos que tentaram perceber melhor a composição destas tintas dos anos 100 a 200 D.C. para aprender mais sobre as práticas de escrita daquela época.
Agora, conta o jornal espanhol ABC, uma equipa europeia formada por químicos, físicos e egiptólogos, com a ajuda de técnicas de radiação síncrotron, revelou mais alguns dos seus segredos.
Investigadores da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, utilizaram o European Synchrotron Radiation Facility (ESRF), em França, para estudar a tinta vermelha e preta de papiros da única biblioteca institucional em grande escala que se sabe ter sobrevivido desde os tempos antigos do Egito: a biblioteca do templo de Tebtunis.
“Descobrimos que se juntava chumbo à mistura de tintas para funcionar como um secador, para que a tinta ficasse no papiro”, declara Marine Cotte, investigadora do ESRF e uma das autoras do estudo publicado, a 26 de outubro, na revista científica PNAS.
“O facto de o chumbo não ter sido adicionado como pigmento, mas como secador, infere que a tinta tinha uma receita bastante complexa e não podia ser feita por qualquer um”, acrescenta Thomas Christiansen, egiptólogo da universidade dinamarquesa e outro dos autores do estudo.
Um facto surpreendente, segundo os cientistas, é que a receita desta tinta pode estar relacionada com as práticas de pintura desenvolvidas muitos séculos depois, já durante o Renascimento.
“No século XV, quando os artistas redescobriram o óleo na Europa, o desafio era conseguir secá-lo num período de tempo razoável. Os pintores perceberam que alguns compostos de chumbo poderiam ser utilizados como secantes eficientes”, explica Cotte.
Segundo o jornal espanhol, os cientistas descobriram que o chumbo estava associado a diferentes elementos: uma mistura complexa de fosfatos de chumbo, sulfatos de chumbo de potássio, carboxilatos de chumbo e cloretos de chumbo.
E, como era de esperar, a equipa descobriu também que a cor vermelha da tinta era possível graças ao ocre.