“Não matem a sede com veneno”. Honduras cortam relações com Taiwan e reatam com a China

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Tsai Ing-wen, Presidente de Taiwan

A Presidente das Honduras, Xiomara Castro, anunciou que o país vai estabelecer relações diplomáticas com Pequim, uma decisão que deve levar ao final das ligações com Taiwan e isolar mais a ilha no plano internacional.

“Dei instruções ao ministro [dos Negócios Estrangeiros] Eduardo Reina para gerir a abertura de relações oficiais com a República Popular da China”, anunciou Castro, na terça-feira, na rede social Twitter, sem mencionar o futuro das relações com Taipé.

Castro, que assumiu o cargo no início de 2022, anunciou antes de chegar ao poder a intenção de reconhecer imediatamente Pequim. No entanto, a dirigente pareceu reconsiderar a posição, depois de ter assistido à cerimónia de posse do vice-Presidente taiwanês, William Lai.

A 1 de janeiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros hondurenho reuniu-se com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Xie Feng, à margem da cerimónia de posse do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Um mês depois, Eduardo Reina anunciou negociações com a China para a construção de uma barragem hidroelétrica. Reina disse ainda na quarta-feira que as Honduras tinham pedido a Taiwan para duplicar a sua ajuda anual de 100 milhões de dólares e para haver uma renegociação da dívida, numa altura em que o país está em graves dificuldades financeiras e com problemas em honrar os pagamentos.

“As necessidades das Honduras são enormes e não tivemos essa resposta de Taiwan”, afirmou o Ministro. Recorde-se que as Honduras têm uma dívida de 600 milhões de dólares para com Taiwan.

Pequim já tinha financiado outra barragem nas Honduras, no valor de 300 milhões de dólares (280 milhões de euros), inaugurada em 2021 pelo então Presidente Juan Orlando Hernández.

As Honduras eram um dos últimos 14 países a manter relações diplomáticas com Taiwan, já que a China exige que os países com que mantém relações não reconheçam a autonomia da ilha.

Em dezembro de 2021, Taiwan perdeu a Nicarágua como aliada diplomática, depois de o Presidente do país centro-americano, Daniel Ortega, ter sido reeleito. A Nicarágua afirmou então que ia passar a reconhecer Pequim como o único governo legítimo de toda a China.

Embora, nos últimos anos, tenha perdido aliados, Taipé também intensificou os intercâmbios oficiais com países como a Lituânia e a Eslováquia, que não reconhecem formalmente Taiwan como um país.

“Armadilha de dívida da China”

Na reacção ao anúncio das Honduras, Taiwan apelou a que o país não “mate a sede com veneno”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan também refutou as alegações de Reina, afirmando que “não reflectem a verdade total” das negociações. “Os nossos esforços de comunicação com as Honduras nunca pararam”, respondeu.

“Apelamos que as Honduras, que já estão a sofrer com problemas de dívida, não matem a sede com veneno e caiam na armadilha da dívida da China. O Governo das Honduras deve ter noção que a República Popular da China faz promessas que não cumpre”, realça.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, aplaudiu a decisão das Honduras, descrevendo-a como a “escolha certa que vai de acordo com a tendência da história e dos nossos tempos”.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso a ilha declare formalmente a independência.

A tensão tem subido de tom nos últimos meses, com a China a realizar mais incursões militares no espaço aéreo de Taiwan e as autoridades de Taipé acreditam mesmo que posso iniciar-se um conflito armado até 2025. Joe Biden já prometeu que os Estados Unidos iriam enviar tropas para a ilha na eventualidade de uma guerra.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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