A Sé Catedral do Funchal foi distinguida nos Prémios Europeus do Património Cultural Europa Nostra no âmbito do restauro dos seus tectos Mudéjares. “São mais de mil metros quadrados a cotonete” que acabam por revelar o esplendor do monumento, o que é quase como pôr um mudo a falar.
Esta analogia é feita pelo responsável pelo património cultural da Madeira, Francisco Clode, que também liderou o projecto de restauro da Sé do Funchal.
Clode destaca, em declarações à TSF, que “é extraordinário” que o trabalho de restauro tenha conseguido criar “visibilidade a uma coisa que está há praticamente 500 anos invisível“.
“É pôr a falar uma pessoa que está muda há muito tempo“, considera ainda, salientando que, agora, “a Sé, com o seu retábulo-mor restaurado e com o tecto restaurado, é um verdadeiro esplendor“.
Este responsável nota as dificuldades do projecto que agora é distinguido, sublinhando que “são mais de mil metros quadrados a cotonete”.
Quanto ao prémio em si, Clode frisa que é o “reconhecimento internacional do esforço” que foi feito. “Não nos devemos esquecer que tudo isto aconteceu durante a pandemia, com logísticas muito complicadas de quarentenas, de técnicos e foi muito difícil”, destaca, concluindo que a “aposta” foi “conseguida”.
Os tectos em estilo Mudéjar, de tradição artística islâmica, são únicos em Portugal, dada a sua dimensão e características. Apresentavam diversas patologias relacionadas com mudanças de cor visível, devido a sujidades acumuladas e aplicações de camadas de vernizes e óleos sobre as superfícies e à gordura e fumos de ceras das velas queimadas ao longo de séculos.
A Sé do Funchal data de 1517, mas a construção teve início em 1493, e está classificada como Monumento Nacional desde 1910.
Governo Regional destaca “empenho” no projecto
Os tectos em estilo Mudéjar da Sé Catedral do Funchal, com 1.500 metros quadrados, foram restaurados “com base nas melhores práticas de conservação da madeira” num processo que “envolveu uma equipa interdisciplinar de profissionais de topo de várias nacionalidades”, refere o júri do prémio Europa Nostra.
O Governo Regional da Madeira considera que esta distinção reconhece o empenho da região na salvaguarda do património, atestando a “preocupação” e a “prioridade” que existe na região com “a conservação do património edificado”, conforme declarações do secretário regional do Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, à agência Lusa.
“Houve um empenho muito forte da parte da região na concretização do projecto”, sublinha ainda Eduardo Jesus.
O projeto “Conservação e Restauro dos tectos Mudéjares da Sé do Funchal”, no valor de 1,161 milhões euros, foi aprovado em Maio de 2019 e contou com um apoio FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional de 987 mil euros, complementado com 174 mil euros do Orçamento Regional.
No decurso dos trabalhos, que ficaram concluídos em Novembro de 2021, foram adoptados “conceitos de intervenção mínima, para preservação da integridade formal e autenticidade do bem cultural, respeito integral pelos materiais e técnicas originais e utilização de materiais compatíveis com os que compõem o original”.
Arte-Xávega, Projecto Almada e Cláudio Torres também distinguidos
O restauro dos tectos Mudéjares da Sé Catedral do Funchal foi distinguido nos Prémios Europa Nostra a par da salvaguarda da técnica de pesca artesanal “Arte-Xávega”, do Projecto Almada e do percurso do arqueólogo Cláudio Torres.
Estes projetos portugueses estão entre 30 de 21 países que, este ano, foram seleccionados pela organização não-governamental Europa Nostra.
Quanto à “Arte-Xávega” no litoral português, o júri do prémio destaca o seu enquadramento “num programa de transferência de conhecimento e saber-fazer“, numa investigação que dá a conhecer práticas exemplares de salvaguarda de “um dos últimos exemplos de pesca artesanal e sustentável na União Europeia”.
O Projecto Almada – iniciativa multidisciplinar que utiliza a investigação científica para apresentar a arte mural do artista modernista Almada Negreiros (1893-1970) numa nova perspectiva – foi igualmente seleccionado pelo seu “alcance exemplar junto de diversas comunidades”, aponta o júri.
Foi ainda distinguido o arqueólogo Cláudio Torres, pelo seu trabalho de há mais de 40 anos no sector, “a par do centro de investigação que criou em Mértola [Campo Arqueológico de Mértola, Alentejo], que desempenha um papel fundamental na valorização e conservação do património islâmico em Portugal“, salienta o júri.
Os 30 vencedores foram selecionados por um júri composto por peritos em património oriundos de toda a Europa, após uma avaliação feita por comités de selecção responsáveis pela análise das candidaturas submetidas, tanto por organizações como por pessoas a título individual, de 35 países europeus.
ZAP // Lusa
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