A Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (Fepodabes) apelou para a dádiva de sangue, alertando que diversos grupos sanguíneos apresentam reservas nacionais inferiores a sete dias.
“As reservas nacionais de sangue apresentam neste momento níveis preocupantes em diversos grupos sanguíneos. Mesmo em pandemia os hospitais continuam a necessitar de sangue para dar resposta às necessidades dos seus doentes”, alerta a Federação, pedindo aos portugueses para que mantenham as suas dádivas.
O presidente da Fepodabes explicou que os grupos A positivo, O negativo e B negativo são os que preocupam mais porque só têm reservas para quatro dias, enquanto o O positivo, A negativo e o AB negativo “estão um pouco melhor, mas não estão bons”.
Alberto Mota explicou que normalmente existem reservas de sangue para dez dias e para esse período só o AB positivo está nessa situação.
“Tradicionalmente nesta altura do ano temos sempre uma descida de dádivas de sangue. No mês de janeiro e fevereiro o inverno, o frio e as gripes retiram sempre muitos dadores da colheita de sangue. Este ano temos a pandemia covid-19 e o confinamento faz com que algumas empresas estejam a laborar em teletrabalho não permitindo tantas colheitas”, referiu.
O presidente da Fepodabes disse também que devido à pandemia as unidades móveis a circular pelas grandes cidades não estão a funcionar assim como há dificuldades em encontrar locais para a colheita, nomeadamente quartéis de bombeiros, enquanto se mantiver a situação do covid-19.
Além disso registou-se um aumento de consumo de sangue. De acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), diversos grupos sanguíneos apresentam reservas nacionais inferiores a sete dias, nível considerado preocupante para dar resposta às necessidades dos hospitais portugueses.
A Fepodabes apela a todos os dadores saudáveis, nomeadamente os mais jovens, a doarem sangue e desta forma a ajudar a salvar vidas, alertando que são necessárias cerca de mil unidades de sangue todos os dias e que a cada dois segundos alguém está a precisar de sangue.
“Dar sangue é seguro, a dádiva de sangue está prevista nas exceções ao confinamento pelo que é muito importante que os portugueses não desmobilizem e continuem a dar o seu contributo”, refere Alberto Mota.
Todos os cidadãos com mais de 18 anos, que tenham mais de 50 kg e que sejam saudáveis podem dar sangue. A informação sobre os locais oficias de recolha de sangue está disponível no site www.fepodabes.pt e no portal www.dador.pt.
Numa altura em que muitos cidadãos revelam algum receio para se deslocar aos hospitais para doar sangue, a Fepodabes recorda que a recolha nos estabelecimentos de saúde é feita com toda a segurança.
Alberto Mota refere ainda que em todas as recolhas de sangue estão a ser rigorosamente adotadas as regras que garantem a segurança dos dadores, cumprindo-se as regras da Direção-Geral da Saúde.
O processo de recolha de sangue é um procedimento rápido, demorando cerca de 30 minutos, e que pode ajudar a salvar várias pessoas, já que uma única unidade de sangue pode servir para ajudar até três vidas.
Stock de sangue como nunca antes visto
Álvaro Beleza, diretor do serviço de sangue do Hospital Santa Maria, também reconheceu, em declarações à SIC Notícias, que viu o stock como “nunca tinha visto”.
“É natural que, quando há confinamento e nesta situação toda, os dadores também se acanhem um pouco. Estamos numa situação difícil, nomeadamente, no grupo A+. Não temos menos 10%. Temos bastante menos do que costumamos ter”, diz.
Por isso, apela aos dadores: “É uma das poucas exceções para que as pessoas devem poder sair de casa, doarem sangue nos hospitais, no Instituto Português do Sangue, porque isso realmente faz muita falta, dado que temos de continuar a tratar os doentes de oncologia, de cancro, de outras patologias, e continuamos a operar. Eles precisam de sangue, além dos doentes covid-19 que também precisam”, frisa.
Garante que dar sangue “é seguro”, que há “todos os cuidados” e acrescenta não ter havido qualquer caso “de contaminação” de “ninguém que tem estado nas colheitas”. “É seguro, é urgente e é necessário”, insiste.
“Hoje [esta segunda-feira] quando cheguei [ao hospital Santa Maria], vi o stock como nunca tinha visto. Fiquei preocupado. Temos um décimo daquilo que precisávamos de ter para o grupo A”, revelou Álvaro Beleza na Edição da Noite, na SIC Notícias.
“E eu já estou nesta especialidade há mais de 30 anos, confesso que já não me surpreendo com muita coisa, mas fiquei preocupado”, acrescentou.
Além disso, está demonstrado em alguns estudos clínicos que a covid-19 atinge mais os doentes do grupo A e, portanto, existem “carências maiores no grupo A”, especifica.
Ainda assim, assegura que, até agora, não tem faltado sangue: “O sangue é essencial à vida e, apesar de termos cada vez mais alternativas, e termos diminuído nos últimos anos 30% as transfusões de sangue, porque cada vez mais há alternativas ao sangue, e é isso que fazemos, é essencial e, portanto, precisamos do sangue para continuar a poder fazer cirurgias, como estamos a fazer, para ter hospital de dia, transfusões em doentes que necessitam, e até agora não tem faltado, mas o sangue é algo que falta sempre”, nota, acreditando, porém, que “os dadores nunca falham” na solidariedade.
Neste momento, as reservas de sangue A+, A- e O- estão com folga de 4 a 7 dias. As de O, B+ e AB- chegam para 7 dias. Já o tipo de sangue AB+ tem folga para 10 dias.
Sofia Teixeira Santos, ZAP // Lusa