Discussão sobre a relação de Marine Le Pen e o regime de Vladimir Putin foi um dos temas marcantes do frente a frente, que não será decisivo para o resultado de domingo.
Aqueles que assistiram ao debate entre Emmanuel Macron frente a Marine Le Pen na última noite com o objetivo de esclarecer dúvidas quanto ao seu voto para as presidenciais francesas do próximo domingo dificilmente o terão conseguido. Segundo as análises feitas por especialistas em político, as duas horas e meia de frente a frente trouxeram poucas novidades, com os dois candidatos a manterem a postura que os tem caracterizado nas últimas semanas.
Do lado de Emmanuel Macron, a estratégia fez-se de ataques, ao passo que a candidata de extrema-direita se tentava defender nas questões mais polémicas como a imigração, o islamismo ou as opções económicas que defende, como a subida dos salários em 10% ou a descida da idade da reforma – quando o atual presidente pretende subi-la para os 65 anos.
De facto, a mensagem de Marine Le Pen tem-se baseado na ideia de devolver poder de compra aos franceses, num contexto de inflação, e marcando uma oposição às medidas temporárias do atual Governo. Macron, por sua vez, tratou de descredibilizar tais intenções, definindo-as como irrealistas.
Apesar das tentativas da candidata da União Nacional em mostrar-se como uma alternativa mais moderada, face à assumida há cinco anos, o seu adversário não se inibiu de a colar ao regime de Vladimir Putin, acusando-a de receber financiamento do presidente russo e dele depender. A explicação de Le Pen para o empréstimo que ainda está a pagar a um banco russo foi sucinta: “Nenhum banco francês quis emprestar-me dinheiro.”
O contra-ataque da candidata fez-se com com o evocar das reuniões de Emmanuel Macron com Vladimir Putin já depois da anexação da Crimeia.
Outro dos temas que marcou o debate da noite de ontem e em que as diferenças entre os dois opositores ficaram mais patentes teve que ver com a União Europeia, organização que o presidente francês pretende ver reforçada, mas da qual Marine Le Pen pretendia retirar França. Apesar desta posição ter sido menos visível ao longo da última campanha eleitoral, a candidata continua a mostrar intenções de operar mudanças neste sentido.
O debate também incluiu algumas referências às questões climáticas, que ganhou relevo após a primeira volta das eleições face ao afastamento dos candidatos de esquerda e à necessidade de Macron em convencer este eleitorado a confiar-lhe o seu voto.
O ping-pong entre os dois não foi suficiente para Macron garantir uma vitória clara que lhe permitisse fechar a eleição por completo, assente na vantagem que as sondagens sugerem. Da parte de Marine Le Pen, também seria necessário um debate irrepreensível para virar o jogo a seu favor, algo que não parece ter conseguido, pelo menos à luz dos estudos de opinião feitos na sequência do debate.