Rússia corta abastecimento de gás à Bulgária e Polónia. Responsáveis europeus falam em chantagem

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Clemens Bilan / EPA

Ursula von der Leyen descreveu a situação como “inaceitável” e garantiu que os restantes países europeus irão providenciar ajuda.

No que parece ser a primeira retaliação às intenções europeias de impôr aos Estados-membros um embargo ao gás, petróleo e carvão russos, o Kremlin anunciou o corte no fornecimento de gás à Polónia e à Bulgária. A medida será também uma consequência de recusa dos dos países em efetuarem os pagamentos relativos às mercadorias em rublos, tal como havia sido exigido pelo governo russo.

Do lado búlgaro, com o país totalmente dependente do gás russo, a decisão não é compreendida, com os governantes a alegarem que cumpriram com todas as exigências contratuais com a Gazprom, não sendo a utilização da moeda russa uma das acordadas inicialmente. À agência Reuters, Vladimir Malinov, responsável pela rede de abastecimento de gás búlgara Bulgartransgaz, esclareceu que, esta manhã, o fornecimento ainda decorria.

O ministério da Energia búlgaro, numa tentativa de descansar a população, já veio dizer que o país tem energia suficiente armazenada para prosseguir com as suas atividades essenciais, nomeadamente o funcionamento de hospitais durante “um período previsível de tempo”.

Alexander Nikolov também explicou o porquê de o país não ter cedido aos apelos das autoridades russas para que os pagamentos fossem efetuados em rublos. “O procedimento de pagamento em duas fases proposto pela Rússia apresentava riscos significativos. Na prática, perderíamos o controlo sobre o nosso dinheiro ao pagar em dólares americanos – uma vez que o banco russo é responsável pela conversão em rublos, não há clareza sobre a taxa de câmbio.”

O responsável governamental também esclareceu que a Bulgária não violou os seus contratos e que o passo dado pela Bulgária não constitui uma ameaça para a Sérvia e a Hungria, que continuarão a receber gás russo. “Em relação à Sérvia e à Hungria, a Bulgária é um parceiro leal para todos os seus países vizinhos. A Bulgária não é a Rússia.” Nikolov também garantiu que o país não irá mudar a sua posição.

Já no que respeita à situação polaca, os últimos dias também haviam sido marcados por disrupções, ao ponto de os seus governantes terem descansado a população sobre quais os passos que o país seguiria num cenário de corte de energia. A agência de notícia do país também avançou ontem com declarações de responsáveis neste sentido.

“A Polónia tem as reservas de energia necessárias e fontes de recursos para proteger a nossa segurança – temos sido efetivamente independentes da Rússia há anos. Os armazéns estão com 76%. Haverá gás nas casas polacas“, garantiu Anna Moscow, responsável pelo Ministério do Clima e Ambiente.

Também Piotr Muller, porta-voz do Governo polaco, abordou o assunto, chamando a atenção para os planos existentes para a construção gasoduto no Báltico. “O gasoduto do Báltico deverá avançar dentro de alguns meses. A decisão de o construir foi tomada pelo governo PiS – partido atualmente no Governo – e tem sido progressivamente implementada nos últimos anos. Este é outro elemento da segurança energética da Polónia.”

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, já reagiu aos acontecimentos desta manhã, condenando a decisão russa e garantindo que os países que integram a União Europeia irão providenciar ajuda à Bulgária e à Polónia. “O anúncio feito pela Gazprom que visa o corte unilateral de fornecimento de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa russa de usar o gás como instrumento de chantagem. “Tal é injustificado e inaceitável. E mostra, mais uma vez, o quão pouco confiável a Rússia é enquanto fornecedora de gás. Estamos preparados para este cenário. Estamos em contacto próximo com todos os Estados-membros.”

De acordo com o The Guardian, a Gazprom também anunciou que irá interromper o fornecimento de gás através destes dois países para outros, como a Alemanha, caso descobrisse a diminuição de volume a circular nas condutas. No comunicado publicado esta manhã, a Gazprom descreveu a Bulgária e a Polónia como países de trânsito. “Em caso de retirada não autorizada de gás russo  para países terceiros, os fornecimentos serão reduzidos por este volume”, explicou a empresa estatal russa.

ZAP //

7 Comments

  1. Deixa ver se entendi: os países europeus sancionaram/congelaram (roubaram) milhares de milhoes de euros e dolares que a Russia tinha a receber da venda de gas/petroleo/outros.. Ou seja, a Russia vendeu gas aos paises europeus mas afinal nao foi bem vender, foi dar. A unica garantia de que a Russia recebe o valor do gas que exporta para a europa, é se o pagamento for feito na sua propria moeda. Querem receber fatura em euro, para depois dizer que está congelado?!? Querem de borla ?!? Vao trabalhar..

  2. O putin é tão ilegalmente rico que nem precisa do dinheiro da energia que vende.
    Deve ter muitos mais negócios aonde vai buscar o dinheiro. Foi considerado um dos homens mais ricos do mundo por isso deve ter outras fontes de dinheiro e que devem ser ilegais. Desde quando um presidente de um país se torna um dos homens mais ricos do mundo.

    • Desde que o ocidente o ajudou a ele e ao seu mentor (o bêbado Boris Yeltsin) a derrubar a União Soviética e dividir os despojos pelos amigos, ocidente que conviveu bem com tudo isso durante estes anos todos, acolheu e fez negociatas com esses amigos ajudando-os a pilhar o que era do povo russo..

  3. A Alemanha tentou europeizar a Rússia. A ideia era boa e teria sido fantástica se na liderança da Rússia estivesse um qualquer Navalny. Com o Putin, esta estratégia falhou. A Rússia democrática poderia ser um forte parceiro da Europa.
    No futuro próximo é preciso ter muito cuidado com os esforços alimentados pelos EUA de criar uma NATO no pacífico. Japão, Coreia do Sul, Austrália, Reino Unido, Taiwan e EUA estão a juntar-se mas a China não é propriamente a Rússia. Tem dinheiro. Muito dinheiro e neste momento também tem armamento de última geração. Cuidado com a China.

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