Rio aponta o dedo ao diretor da PJ por ter feito um “foguetório para beneficiar o PS” na detenção de Rendeiro

José Coelho / Lusa

O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio

Rui Rio, em entrevista, destacou o papel que a polícia sul-africana teve na detenção de João Rendeiro, sublinhando que as autoridades portuguesas ficaram unicamente responsáveis pela localização do antigo presidente do Banco Privado Português.

O líder do PSD não está disposto a ceder nas críticas feitas à atuação da Polícia Judiciária (PJ) no âmbito da detenção de João Rendeiro. Depois de um tweet no qual dava a entender que a forma como a operação foi conduzida teve como objetivo beneficiar o PS na antecâmara das próximas eleições legislativas de 30 de janeiro — o que lhe valeu um coro de críticas —, Rio voltou à carga, dizendo que o diretor da Polícia Judiciária, Luís Naves, ocupante de um cargo que resulta da nomeação do Governo, não resistiu em criar um “foguetório” para “beneficiar indiretamente o PS”.

“Se não houvesse eleições à porta, o diretor da PJ tinha um comportamento normal, dava uma conferência de imprensa, quando muito uma entrevista. Quando João Rendeiro fugiu, andou de canal em canal a dar entrevista?”, questionou o líder dos sociais-democratas. Ainda assim, recusou que a sua intenção fosse afirmar que a PJ estivesse a mando dos socialistas e realçou que a mensagem estava também carregada de ironia.

Já a propósito dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa — que disse que o líder dos sociais-democratas não tinha “noção” de como se desenvolve uma operação desta natureza — sobre o tweet, Rio desvalorizou e considerou que as declarações do Presidente da República foram feitas com base no que alguém lhe dissera e não por ter lido efetivamente a mensagem.

“Se eu tivesse dito o que a ele lhe disseram que eu disse, eu estaria de acordo. O Presidente da República o que disse estava certo, agora de certeza que não leu o meu “tweet”, explicou Rio. O tópico encerrou com o antigo autarca do Porto a reconhecer que, se fosse hoje, escolheria uma linguagem “mais clara” de forma a não possibilitar interpretações abusivas das suas palavras.

Sobre as eleições legislativas, o líder do PSD afirmou que estará disponível para dialogar com o PS caso fique em segundo lugar nas legislativas — tal como espera que aconteça caso seja o PSD a vencer — apesar de ressalvar que não irá dar borlas aos socialistas.

“Vamos ter eleições democráticas. Um vai ganhar, os outros vão perder. Não havendo maioria, que é muito difícil haver, os que perdem devem ter disponibilidade para a governabilidade do país. Não quero com isso dizer que o PS me deve apoiar. Digo que deve estar disponível para negociar” esclareceu. Rio Rio negou ainda que fosse particular apoiante de um acordo entre os dois principais partidos portugueses, sobretudo com um espaço temporal curto — de dois anos — como se tem vindo a falar.

“Não propus um acordo por dois anos. O que eu disse é que é preciso ver se os partidos conseguem negociar os quatro anos, mas se isso não for possível, que se faça pelo menos por dois e se avalie a meio.”

Finalmente, sobre a decisão do partido em não se submeter a votos em coligação pré-eleitoral com o CDS, Rio remeteu a decisão para a Comissão política do partido, reconhecendo que ele próprio tinha dúvidas sobre a questão.

“Não sou nenhum ditador. Eu próprio tinha dúvidas. Coloquei essa questão à Comissão Política, a maioria foi contra. Depois coloquei outra vez a questão e a grande maioria voltou a dizer que era mais vantajoso ir sozinho. Porque colocando o PSD no centro nos dá vantagem, até para conseguir captar o voto das pessoas mais moderadas”, diagnosticou.