As roupas mais coloridas do Panamá contam uma história sobre independência (e as mulheres assumem o comando)

As roupas mais coloridas de Guna Yala, no Panamá, contam uma história de independência. Apesar de serem um símbolo desta cultura, estão em risco.

Nas águas das Caraíbas, há um pequeno arquipélago de 365 ilhas conhecido como Guna Yala ou Ilhas San Blas, um território politicamente independente.

Lá, toda a comunidade pesa nas decisões legais e políticas, mas o mais curioso é o facto de serem as mulheres o centro da decisão: são elas que herdam terras, os noivos mudam-se para as suas casas e adotam o seu nome.

São também elas que fazem, usam e vendem molas, um símbolo da independência da Guna.

De acordo com o Atlas Obscura, estes tecidos de algodão costurados à mão, tradicionalmente transformados em blusas e usados pelas mulheres Guna, costumam ter desenhos vibrantes e geométricos, ainda que variem muito: desde a mitologia à cultura pop, incluem até temas religiosos ou animais e plantas.

As molas não surgiram por acaso. Influenciados por imigrantes e comerciantes europeus, os homens Guna começaram a fazer as suas próprias roupas ao estilo ocidental. Já as mulheres inspiraram-se nos desenhos de pintura corporal de Guna e “inventaram o seu próprio estilo”.

Tudo mudou em 1918, quando o Governo do Panamá tornou ilegal o uso de molas, a língua e várias outras práticas espirituais e culturais. Segundo o portal, Belisario Porras, o Presidente do país, queria “erradicar a cultura Guna.”

A partir desse momento, fazer e usar molas tornou-se um ato de protesto político. Se os tecidos eram as armas de uma guerra, as mulheres interpretavam o papel de verdadeiros militares.

A 23 de fevereiro de 1925, os Guna expulsaram a polícia do território e declararam a independência.

As molas persistem até hoje como um símbolo de independência e do impacto que as mulheres têm nesta sociedade. No entanto, podem vir a cair por terra, se os artesãos não forem devidamente apoiados.

Cada mola demora cerca de 30 horas a ser produzida e, muitas vezes, os artesãos ganham tão pouco quanto 5 dólares (4,40 euros) pelos seus esforços.

A indústria mundial, em particular as imitações comerciais das molas, também ameaçam esta tradição, que é também o sustento de muitos artesãos.

Liliana Malainho, ZAP //

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