Roubos de catalisadores automóveis aumentam devido ao preço dos metais raros

Os roubos aumentaram 585% entre o ano passado e 2020. A cotação de metais raros que compõem os conversores explica o fenómeno.

De acordo com o Jornal de Notícias, os ladrões preferem viaturas mais antigas, pois têm mais metais e assaltam até em pleno dia.

A quatro dias do Natal passado, Jorge Sousa decidiu aproveitar para levar o neto a dar uma volta num comboio de Natal.

“Estacionei no parque da estação de metro da Levada, no centro de Rio Tinto [Gondomar], seriam umas 16.30 horas. Nem uma hora demorei. Meti o meu neto no carro, dou à chave e ouço um barulho enorme. Como a carrinha já tem 20 anos, pensei que lhe tivesse caído o escape”, explicou.

Sem saber, acabava de se tornar um dos 6926 portugueses que, no ano passado, ficaram sem catalisador no carro. O recorde é explicado pelos especialistas devido ao aumento da cotação do preço dos metais raros que integram aquela peça.

“Espreitei por baixo e lá estava a panela de escape pendurada. Só o senhor do reboque é que me disse que tinham roubado o catalisador“, recordou.

Na marca, pediam-lhe mil euros pela reparação, com a colocação incluída. “Tive de ir para a concorrência, pois pode voltar a acontecer-me o mesmo. E paguei 230 euros”, conta Jorge Sousa.

Recorde de assaltos

O roubo de catalisadores, ou conversores catalíticos, passou de um fenómeno quase sem expressão para atingir, no ano passado, um recorde, com a PSP e a GNR a registarem 6926 furtos (contra 1011 em 2020, um aumento de 585%), a uma média diária que se aproxima das duas dezenas.

Os carros mais antigos são os mais roubados, pois os conversores têm maior quantidade de metais raros — platina, ródio e paládio — cujo elevado preço explica esta onda de assalto.

O modo de atuação dos assaltantes envolve, por regra, no mínimo dois indivíduos, que se deslocam numa viatura também importante para o sucesso do golpe.

“Estacionam à frente, na traseira ou, em último caso, paralelamente ao veículo que será alvo do furto, ficando um dos indivíduos a controlar os movimentos. Através de um macaco hidráulico, o veículo é levantado e o segundo homem posiciona-se sob o veículo para cortar o catalisador, através de uma serra de sabre sem fios ou ferramenta idêntica. Se não houver interrupções, pode demorar apenas cerca de dois minutos”, revelou a GNR.

A PSP refere que, nos últimos meses, se tem verificado uma “clara tendência decrescente, apesar de ser um crime que poderá perdurar no tempo em face da motivação financeira”.

Na sua área, foram registados 4895 furtos e recuperados 1347 catalisadores. Foram detidos 326 assaltantes e identificados 575 suspeitos.

A motivação “decorre do elevado valor nos mercados internacionais dos metais preciosos existentes no dispositivo” e, apesar de alguns conversores chegarem a oficinas para serem montados noutras viaturas, “a grande maioria é desmantelada”.

O aumento do fenómeno levou a PSP, em 2020, a criar as Equipas Regionais de Investigação à Criminalidade Automóvel, para “análise das ocorrências, tendências da criminalidade reportada e das metodologias de furto”.

A GNR registou 2031 furtos, deteve 70 indivíduos e identificou 240. “São maioritariamente praticados junto dos aglomerados populacionais/residenciais, na via pública e parques de estacionamento” e também “em pleno dia”, refere a Guarda.

Os alvos são “maioritariamente veículos com matrículas dos anos 90 e da primeira década deste século, a gasolina” .

Foram recuperados 353 catalisadores. Quando não é possível identificar o dono, são reciclados segundo normas da Agência Portuguesa do Ambiente.

Ou, como desabafa Jorge Sousa, “há sempre alguém a ganhar com o meu catalisador. Ou os ladrões ou o Estado”.

Para quem possui viaturas mais recentes, o seguro de danos próprios, quando contratada a cobertura de furto ou roubo, garante o ressarcimento dos danos causados ao veículo, quer estes se traduzam no desaparecimento, na destruição ou deterioração do veículo e/ou dos seus componentes, quer na subtração de peças fixas e indispensáveis à sua utilização, como é o caso do catalisador.

Não é ideal, pois, em caso de participação, o prémio do seguro é agravado, mas garante alguma tranquilidade na altura da reposição da peça.

Cada companhia tem a sua idade máxima de subscrição das coberturas de danos próprios (furto ou roubo, choque, colisão e capotamento, atos de vandalismo, etc…), sendo que a idade máxima de aceitação varia entre os oito até 12 anos de idade da viatura (dependendo das companhias e das regras de subscrição vigentes).

Salvo raras exceções, não são aceites veículos com mais de 12 anos de idade (varia com o valor da viatura, tipo de cliente e transferência de congénere, mantendo coberturas).

Conselhos aos automobilistas

Sempre que possível, deve-se estacionar a viatura numa garagem fechada ou numa área bem iluminada e movimentada. É importante evitar deixar o carro com duas rodas no passeio e as outras duas na estrada.

Também é aconselhável estacionar paralelamente ao passeio e o mais encostado possível. Obriga o assaltante a meter o macaco do lado da rua e dificulta a sua ação.

Se detetar alguma pessoa debaixo de uma viatura, como se estivesse a realizar uma reparação, deve chamar de imediato a Polícia e anotar as matrículas de outros carros que pareçam estar envolvidos para facilitar o trabalhos aos agentes.

Quem seja alvo deste crime, ou de mera tentativa, deverá sempre formalizar a respetiva queixa, pois as autoridades, ao terem conhecimento do caso, iniciam de imediato a investigação.

É possível gravar o VIN (“vehicle identification number” ou número de identificação do veículo) no catalisador.

Isto poderá dissuadir o assaltante de o furtar e, em caso de recuperação, facilita a identificação do proprietário. Por outro lado, pode reconhecer o dispositivo se a peça aparecer à venda na internet.

ZAP //

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