“A Ronda da Noite” de Rembrandt esconde mais segredos do que se pensava

Freek Van Den Bergh / EPA

Químicos do Rijksmuseum e da Universidade de Amesterdão identificaram na pintura pigmentos amarelos e laranja/vermelhos à base de arsénico, pouco comuns, revelando novos detalhes sobre a paleta de Rembrandt.

Desde 2019, os investigadores têm vindo a estudar meticulosamente a composição química da obra-prima de Rembrandt, “A Ronda da Noite”. Este esforço faz parte da Operação Night Watch do Rijksmuseum, dedicada à preservação a longo prazo da pintura.

Historicamente, as análises das obras de Rembrandt identificaram vários pigmentos por ele utilizados. No entanto, apesar da diferente palete de cores, os pigmentos azuis ou verdes puros raramente foram utilizados pelo artista, sendo “A Festa de Baltasar” uma exceção notável.

No início de 2022, os investigadores descobriram vestígios raros de acetato de chumbo em “A Ronda da Noite”, que eram inesperados em áreas sem pigmentos de chumbo. Isto levou-os a colocar a hipótese de os acetatos de chumbo poderem desaparecer rapidamente, explicando a sua ausência noutras pinturas de mestres holandeses.

Depois de testes levados a cabo pelos investigadores, os peritos descobriram que o óleo utilizado nas zonas mais claras da pintura tinha sido tratado com um secante de chumbo alcalino. As descobertas estão detalhadas num estudo publicado este mês na revista científica Heritage Science.

O envernizamento de “A Ronda da Noite” no século XVIII com um verniz à base de óleo pode ter introduzido ácido fórmico, resultando numa formação variada de acetato de chumbo ao longo da história da pintura.

No passado mês de dezembro, a equipa passou a concentrar-se nas camadas preparatórias da tela. Pela primeira vez, Rembrandt utilizou um fundo de argila de quartzo para “A Ronda da Noite”, provavelmente devido ao enorme tamanho da pintura, que exigia uma alternativa mais barata.

Utilizando métodos de raios X 3D, os cientistas descobriram uma inesperada camada com chumbo por baixo. Esta camada de chumbo, possivelmente adicionada ao óleo utilizado na preparação da tela como aditivo de secagem, pode explicar as saliências de chumbo invulgares na pintura.

A última descoberta envolve sulfuretos de arsénico, escreve o ArsTechnica, sublinhando que Rembrandt utilizou intencionalmente estes pigmentos.

Os investigadores mapearam a obra e detetaram arsénico e enxofre nas mangas e no casaco bordado do tenente Willem Van Ruytenburch, uma figura central na pintura.

Depois de uma análise mais extensiva, identificaram as partículas amarelas como pararealgar e as partículas laranja a vermelhas como pararealgar semi-amorfo, que são componentes normalmente associados à degradação de minerais naturais ou equivalentes artificiais ao longo do tempo.

A presença destes pigmentos parece ser intencional, apoiada por fontes históricas que documentam vários sulfuretos de arsénio utilizados para diferentes tonalidades. Rembrandt também usou vermelhão e amarelo de chumbo-estanho para aumentar o brilho e a intensidade. Em “A Ronda da Noite”, procurou um tom laranja brilhante para simular o bordado a fio de ouro no traje de Van Ruytenburch.

ZAP //

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