Numa pequena ilha entre Madagáscar e a costa leste de África, uma equipa de cientistas encontrou um filão de rochas que não deveria estar lá.
A pequena ilha é feita de rocha ígnea vulcânica que vem da crosta oceânica. No entanto, as misteriosas rochas encontradas são da crosta continental. “Não se parece com nada que possa ter-se formado numa ilha como esta”, adiantou Cornelia Class, geoquímica da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Financiada por uma bolsa da National Geographic Society, Class liderou recentemente uma expedição científica à ilha. Os cientistas ouviram falar da rocha por inúmeros relatos nos meios de comunicação social, até finalmente conseguirem confirmar a presença de quartzito, que normalmente é encontrado em áreas com altas temperaturas e pressões.
“Isto é contrário às placas tectónicas”, disse Cornelia Class. “Os corpos de quartzito não pertencem a ilhas vulcânicas.” Mas o mistério é muito maior do que imaginavam: o quartzito compõem, na verdade, metade de uma montanha, avança o Live Science.
A ilha Anjouan é uma das Ilhas Comores e conta com cerca de 424 quilómetros quadrados. A ilha são restos de um vulcão que expeliu e escorreu lava que, gradualmente, se acumulou no fundo do mar.
Os geólogos já haviam encontrado algumas rochas não vulcânicas em Anjouan. “Durante todos estes anos, incomodou-me o facto de eu não saber como é que estas rochas lá chegaram”, disse a cientista.
O quartzito não deveria estar em Anjouan. A ilha fica numa bacia oceânica e este tipo de bacias foram placas tectónicas separadas que permitem que o magma do manto endureça e forme uma nova crosta. Devido a este processo, as rochas das bacias oceânicas são basálticas: escuras, magnesianas e ricas em ferro.
Por outro lado, as placas continentais são feitas de rochas graníticas, menos densas e muito mais claras. As zonas de transição entre a crosta oceânica e a crosta ocidental podem conter os dois tipos de rochas – mas Anjouan não corresponde a este tipo de região.
Mistério da montanha
Durante a expedição, os cientistas encontraram muito mais quartzito do que qualquer um havia documentado até agora. “É quase meia montanha“, contou Class. A equipa da investigadora visitou lugares onde geólogos tinham descoberto anteriormente fragmentos da rocha de cor clara, mas mesmo assim conseguiu surpreender-se.
Mal chegaram à ilha, os cientistas aperceberam-se de que os locais usavam as pedras de quartzito para afiar facas. Como resultado, fargmentos da rocha caíram ao longo dos tempos, tendo sido alastrados para aldeias e oficinas, dificultando a vida aos geólogos que, desta forma, tinham menos pistas sobre onde procurar o quartzito.
No entanto, à medida que os cientistas exploravam a ilha, encontraram cada vez mais fragmentos de quartzito, inclusivamente grandes rochas e afloramentos. Até que, para sua grande surpresa, encontraram uma cordilheira chamada Habakari N’gani e descobriram que grande parte dos seus trechos eram (quase totalmente) quartzosos.
Class e a sua equipa estão atualmente a reunir mais dados, uma vez que, neste momento, a existência desta rocha neste local é totalmente inexplicável.
Em alguns casos, é possível que a crosta continental acabe no meio de uma bacia oceânica porque um pedaço de continente se rompe e se afasta – aliás, este é o caso de Madagáscar. No entanto, a química das rochas vulcânicas de Anjouan não indica qualquer associação com a crosta continental.
Certo é que o quartzito da crosta chegou à bacia oceânica e foi erguido com as rochas vulcânicas a cerca de 4 mil metros do fundo do mar. Explicar este mistério exigirá mais informações, adianta Class.
A primeira prioridade é descobrir quantos anos tem o quartzito, o que ajudaria os cientistas a identificar onde se originou. Além disso, medidas geoquímicas adicionais das rochas vulcânicas que compõem o resto da ilha ajudariam a esclarecer a história geológica da ilha remota.
Conclusão, vai ser precisa mais uma bolsa da National Geographic Society!
Logo mais a geofísica aparece pra mostrar que esse mistério nem é tão misterioso