O ritual terá surgido como resposta aos saques dos colinizadores europeus às sepulturas, já que os indígenas valorizavam muito a integridade do corpo após a morte.
Um novo estudo publicado na Antiquity documenta um ritual fúnebre que era desconhecido até agora na região do Peru.
Foram encontrados quase 200 exemplares de colunas vertebrais humanas enroscadas em paus de junco em sepulturas centenárias de comunidades indígenas conhecidas como “chullpas”. As covas já têm mais de 500 anos e são da altura do domínio colonial europeu na América Latina, revela a CNN.
Os arqueólogos investigaram 664 sepulturas numa região de 40 quilómetros quadrados que continha 44 locais mortuário. Das 192 espinhas encontradas, os arqueólogos notaram que em quase todos os casos, os ossos pertenciam todos à mesma pessoa.
A equipa mediu a quantidade de carbono radioativo nas ossadas e nos paus de junco. O carbono radioativo acumula-se quando um organismo está vivo, mas decompõem-se e transforma-se em nitrogénio depois da morte. Assim, a equipa conseguiu estimar quando é que os paus foram criados, escreve o Live Science.
Os jovens e os adultos eram os escolhidos para este ritual, que os investigadores acreditam que nasceu em 1450 e terá acabado por volta de 1650, com o fim do domínio Inca na região.
Este período foi particularmente “turbulento” para a população devido à chegada dos europeus e às “epidemias e fomes que dizimaram a população local“, revela Jacob L. Bongers, autor principal do estudo.
O vale Chincha foi o lar do reino Chincha entre 1000 e 1400, que tinha uma aliança com o Império Inca. A chegada dos colonizadores do Velho Continente levou a a uma enorme redução na população, que passou de 30 mil chefes de família para apenas 1533 entre 979 e 1583.
O arqueólogo da Universidade de East Anglia também já documentou o saque a centenas de sepulturas na região em pesquisas anteriores. “O saque a covas indígenas era comum no Vale de Chincha Valley no período colonial e tinha o objetivo de remover os bens de ouro e prata, sendo parte dos esforços europeus para erradicar as práticas religiosas e costumes fúnebres dos indígenas”, afirma Bongers.
A análise às espinhas vertebrais encontradas sugere que possam ter sido enroscadas nos paus para reparar os danos causados aos mortos pelos saques, já que a integridade do corpo depois da morte era muito importante para os nativos.
“Estes paus com as vértebras foram provavelmente feitos para reconstruir os mortos em resposta aos saques às sepulturas. As nossas descobertas sugerem que representam uma resposta direta e ritualizada dos indígenas ao colonialismo europeu”, remata o arqueólogo.