Revolução em investigações criminais: ADN já pode ser detetado no ar

Gotículas de saliva e fragmentos das células da pele sobrevivem no ar após alguém frequentar determinado ambiente e podem ser usados para revelar identidades.

Para identificar criminosos, não voltará a ser necessário recolher impressões digitais no local de um crime ou analisar fios de cabelo, sémen e outros vestígios “comuns” de material genético. A alternativa proposta pela ciência forense é a recolha e estudo do ADN humano encontrado no ar e até em aparelhos de ar condicionado.

Toda a proposta desenvolvida por investigadores da Universidade Flinders, na Austrália, pode parecer ficção científica, mas não é. O projeto — ainda em fase piloto — beneficia-se de uma área emergente do conhecimento que envolve o ADN ambiental (e-ADN) — a análise do ADN de organismos em amostras recolhidas no ambiente, como o ar, a água e a terra.

O método é utilizado por biólogos na deteção de criaturas que habitam as profundezas dos oceanos, local quase inexplorado pelos humanos. Nas últimas duas décadas, os cientistas conseguiram recolher e sequenciar eADN de amostras de solo ou água para monitorizar a biodiversidade, as populações de vida selvagem e os patógenos causadores de doenças.

A busca de espécies ameaçadas raras ou evasivas através do seu eADN tem sido uma bênção para os investigadores, uma vez que os métodos tradicionais de monitorização, como observação ou captura, podem ser difíceis e intrusivos para as espécies de interesse.

“O ADN humano pode ser encontrado no ar após alguém falar ou respirar sob a forma de gotículas de saliva“, explica Emily Bibbo, investigadora da universidade australiana e uma das autoras do estudo, em comunicado. Fragmentos das células da pele também podem ajudar nessa missão.

“Podemos usá-lo [esse ADN] como prova para demonstrar que alguém esteve na sala, mesmo que tenha usado luvas ou limpado as superfícies para remover as provas”, sublinha acerca das potencialidades da nova técnica.

Testes de ADN recolhido no ar

Publicado na revista científica Electrophoresis, o novo estudo procura identificar o ADN de pessoas que estiveram numa sala como se estes cenários fossem hipotéticas cenas de um terrível assassinato. O equipamento de ar condicionado também foi analisado.

Segundo os autores, o ADN encontrado no ar pode ser usado para identificar uma pessoa que passou por um determinado ambiente.

Quando se analisa o ADN recolhido do ar de uma sala, a amostra é representativa da ocupação mais recente; já as amostras encontradas no filtro do ar condicionado indicam presenças um pouco mais antigas e mais recorrentes.

“A amostragem de unidades de ar condicionado pode ser usada para identificar ocupantes habituais ou de longo prazo de um espaço e a amostragem de ar pode ajudar na identificação de usuários recentes ou de curto prazo de um espaço”, lembram os autores.

Se a presença de uma pessoa na cena de crime não é suficiente para provar que ocorreu um crime, pode-se pelo menos comprovar se determinado suspeito estava no local ou não. Também podem revelar visitas frequentes a alguém que foi assassinado.

Antes da técnica começar a ser usada na prática, a equipa quer entender quais são as melhores formas de recolha das amostras, o que aumentará a precisão dos resultados na identificação de crimes.

ZAP // CanalTech

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