Nelson Ferreira da Silva descreve ao ZAP o seu agregador de artigos sobre escrita: “Há, de facto, pessoas que esperam por ela todas as manhãs”.
“Há, de facto, pessoas que esperam por ela todas as manhãs. Pessoas que eu não conheço, com quem nunca falei, mas que, de vez em quando, fazem questão de mo dizer”.
“E eu agradeço, embora seja pouco dado a receber elogios. E não é falsa modéstia: não faço a RIL para obter “gostos” ou vantagens de qualquer tipo. Aliás, se o fizesse, a esta hora já teria perdido o interesse nela”.
As palavras são de Nelson Ferreira da Silva e a RIL é a revista de imprensa literária.
Todos os dias, ou melhor, todas as manhãs, Nelson espreita todos os artigos publicados na imprensa portuguesa sobre livros, literatura, escritores… É um verdadeiro agregador de artigos.
Começou a fazer a revista de imprensa literária em 2022. No início era só na sua conta no Facebook; no ano passado começou a partilhar a lista no WhatsApp (para subscritores e em grupos dedicados à literatura) e, há poucos dias, criou mesmo o site.
Em conversa com o ZAP, Nelson explica porque começou a ter esta rotina: “Há uma ideia generalizada de que o espaço concedido pela imprensa portuguesa aos temas da cultura tem vindo a diminuir de forma consistente. Isso é verdade. Porém, não vale a pena demonizar as administrações, os jornalistas, os críticos, etc.”.
“No caso dos livros, em particular, é preciso torná-los mais visíveis. É isso que tento fazer. Não tenho qualquer ligação a órgãos de comunicação social ou editoras e, enquanto me der prazer escrevê-la todos os dias, continuarei a fazê-lo”, assegura Nelson, que é tradutor na sua vida profissional.
Publicar cada revista de imprensa literária demora normalmente entre 30 minutos e uma hora. Como vive na Bélgica, adianta-se uma hora a quem vive em Portugal.
Além disso: “Como já faço a RIL há algum tempo, certos automatismos facilitam a tarefa” – mas tenta sempre fazer referência a todos os livros mencionados em entrevistas, críticas, reportagens e notícias.
Esta revista de imprensa literária começou a ter muitos seguidores, quase um clube de fãs: “Noto um interesse muito grande pela RIL, mas não tenho grandes expectativas: sei bem que a esmagadora maioria das pessoas que a lê/recebe são aquelas que já têm por hábito ler livros e jornais/revistas. Não pergunto aos leitores se a RIL os fez comprar mais jornais ou mais livros, mas sei que há quem a utilize como ferramenta de trabalho”.
No meio dos elogios que tem recebido, destacou-se um da editora e escritora Diana Carvalho: “Um dia, passará a fazer parte do receituário diário do SNS, não tenho dúvidas. É um trabalho silencioso mas de grande valor. Imagino que daqui a 10 anos irá ser realizado um documentário europeu sobre uma RIL portuguesa que começou a mudar o mundo, desbravando a iliteracia”.