“Humilhação post-mortem”. Revolta com retirada do nome do jornalista Mário Mesquita de livro da ERC

Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República

Filha do jornalista Mário Mesquita com condecoração.

Filha de Mário Mesquita, Ana Mesquita, com a conderação da Ordem da Liberdade que foi entregue por Marcelo Rebelo de Sousa ao pai, a título póstumo, a 31 de Maio de 2022, durante o velório.

Mais de 350 jornalistas, professores universitários e investigadores assinaram uma nota de repúdio sobre a retirada, pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), do nome do jornalista Mário Mesquita, já falecido, da capa do livro “A Desinformação. Contexto Nacional e Europeu”.

Na iniciativa de Marisa Torres da Silva, coordenadora da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, os signatários manifestam indignação e perplexidade com a retirada do nome de Mário Mesquita da capa daquele livro, da colecção Regulação dos Media que foi supervisionada pelo falecido jornalista e ex-presidente da ERC.

Os subscritores consideram que a retirada do nome, “a pedido” do actual presidente do Conselho Regulador da ERC “é um ato vil e mesquinho, que atenta contra o inexcedível legado de Mário Mesquita e contra a dignidade do seu carácter”.

“Esta obra, publicada recentemente pela Almedina no âmbito da colecção Regulação dos Media (coordenada, aliás, pelo próprio Mário Mesquita), retoma e amplia um relatório publicado em 2019 com o mesmo título, enquanto contributo da ERC para o debate sobre desinformação na Assembleia da República, supervisionado por Mário Mesquita, como indica a ficha técnica”, escrevem.

Entre os subscritores estão nomes como os dos jornalistas Pedro Coelho, Maria Flor Pedroso, António Granado, José Pedro Castanheira, Adelino Gomes, António Caeiro e Helena Garrido, entre outros, além de diversos professores universitários, historiadores e investigadores.

Os subscritores manifestam, na nota divulgada pela Lusa, o seu repúdio por aquilo que consideram ser “um acto de humilhação post-mortem”.

Presidente da ERC quis substituir nome de Mário Mesquita

A notícia da retirada do nome de Mário Mesquita da capa do livro foi divulgada na segunda-feira pelo Diário de Notícias que explica que, com a morte de Mesquita, a supervisão da colecção passou para o presidente da ERC, Sebastião Póvoas.

Segundo o jornal, Sebastião Póvoas, “perante o facto de a capa entregue à editora ostentar o nome do vice-presidente, quis substituí-lo pelo de João Pedro Figueiredo, que recusou”.

“A decisão terá sido então a de publicar o livro sem menção de autoria na capa“, escreve.

O DN confrontou Ricardo Monteiro, diretor editorial da Almedina, que edita o livro, com as duas versões de capa e ficha técnica patentes nos ‘sites’ da editora, que confirmou que o nome de Mário Mesquita foi retirado por ordem da ERC.

“A versão definitiva e única é a que não tem o nome do professor Mário Mesquita na capa. Houve uma versão em que o nome estava na capa e, a certa altura, foi retirado, por opção da ERC, que é quem coordena essa colecção”, refere Monteiro.

A ERC alega, na resposta escrita enviada ao jornal, que “apenas uma versão do livro teve a aprovação para publicação”.

Livro lançado sem nome na capa

O livro, que chegou às livrarias com data de Janeiro de 2023, não tem qualquer nome na capa ao contrário de todas as outras obras da colecção Regulação dos Media, que ostentam a identificação de quem coordenou ou superintendeu o trabalho.

Na ficha técnica surgem agora dois nomes na supervisão: Mário Mesquita e João Pedro Figueiredo, membro do Conselho Regulador da ERC.

De acordo com a informação recolhida pelo DN, João Pedro Figueiredo também terá, sobretudo a partir do momento em que Mário Mesquita, por doença, deixou de o poder fazer, trabalhado na supervisão do livro.

Questionada pelo DN, a ERC não esclareceu por que motivo – tratando-se de uma questão de co-autoria – não foram colocados os dois nomes na capa.

Mário Mesquita, que formou várias gerações de jornalistas enquanto professor universitário, foi vice-presidente da ERC e trabalhou no Diário de Notícias, Diário de Lisboa, República e Público. Morreu em Maio do ano passado, aos 72 anos.

ZAP // Lusa

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