Retinas cultivadas revelam por que vemos milhões de cores que gatos e cães não vêem

Através da análise de retinas humanas cultivadas numa placa de Petri, uma equipa de cientistas descobriu como uma ramificação da vitamina A produz células especializadas que permitem às pessoas ver milhões de cores, uma capacidade que cães, gatos e outros mamíferos não possuem.

A maioria dos mamíferos depende predominantemente do olfato. Os seus olhos, muitas vezes posicionados nas laterais, garantem um amplo campo de visão, mas a custo de uma visão deficiente à distância.

Normalmente, os predadores têm olhos mais voltados para a frente, mas, ao contrário desses animais, os humanos, os símios e os macacos têm uma característica peculiar: olhos totalmente voltados para a frente, com uma grande área de sobreposição visual, que lhes confere maior acuidade visual.

Aliás, os humanos têm uma das melhores visões do reino animal, o que pode explicar por que somos uma espécie tão bem-sucedida.

Em 2018, um estudo comparou a acuidade visual de cerca de 600 espécies de insetos, pássaros, mamíferos, peixes e outros animais, e permitiu descobrir que a visão humana é uma exceção, sendo cerca de 7 vezes mais nítida do que a de um gato, 40 a 60 vezes mais nítida do que a de um rato e centenas de vezes mais nítida do que a visão de uma mosca ou de um mosquito.

Na visão das cores, os humanos também superam a maioria dos outros mamíferos. O olho humano pode ver milhões de cores, uma paleta muito mais ampla do que a dos cães e gatos, por exemplo.

Agora, um novo estudo concluiu que esta característica é devida a células oculares especializadas cujo desenvolvimento é dirigido pelo ácido retinóico, um derivado da vitamina A. Segundo o Interesting Engineering, a descoberta contradiz a crença de que as hormonas da tiróide controlam este processo.

O papel da vitamina A e do ácido retinóico

Macacos e símios do Velho Mundo, incluindo os seres humanos, desenvolveram tricromacia: a capacidade de perceber as cores vermelha, verde e azul.

Estes canais de cores independentes são derivados de três tipos distintos de células cónicas. Os cães, por exemplo, têm apenas dois canais de cores para o azul e o amarelo, o que os torna parcialmente daltónicos para o vermelho-verde.

Nesta investigação, a equipa cultivou retinas humanas numa placa de petri e descobriu que os níveis de ácido retinóico durante o desenvolvimento inicial são muito importantes para o desenvolvimento e diferenciação das células cone.

Enquanto níveis elevados levam à predominância de cones verdes, os níveis mais baixos resultam em mais cones vermelhos.

“Os organóides retinais permitiram-nos estudar, pela primeira vez, esta característica específica do ser humano”, disse Robert Johnston, da Johns Hopkins University, em comunicado.

Os investigadores também mapearam as proporções dos cones vermelho e verde em 700 retinas humanas adultas, tendo conseguido observar variações surpreendentes que não afetam a acuidade visual. No fundo, pessoas com visão normal vêem cores ligeiramente diferentes umas das outras.

Este estudo, cujo artigo científico foi publicado na PLOS Biology, permitirá à comunidade científica debruçar-se com mais detalhe sobre a visão humana e entender melhor condições como o daltonismo, a perda de visão relacionada à idade e outras que afetam a visão.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.