“Nunca vi nada assim”. Resgates milagre de crianças após o sismo têm explicação

EPA / STR

Menino a sorrir depois de ter sido resgatado após o sismo na Turquia.

Criança resgatada dos escombros de edifício que ruiu na cidade de Hatay, Turquia, devido ao sismo de 6 de Fevereiro de 2023.

Entre a fome, o frio, o desespero e o luto pelos mais de 21 mil mortos, continuam a chegar boas notícias da Turquia, com resgates milagrosos. Várias crianças têm sido retiradas com vida dos escombros dos edifícios várias horas depois do sismo ter ocorrido, mas não é milagre nenhum!

As equipas de emergência da Turquia conseguiram resgatar pai e filha cerca de 90 horas depois de terem ficado soterrados sob os escombros de um prédio destruído pelo grande sismo de segunda-feira.

A agência de notícias estatal turca Anatolia avança que os dois sobreviventes foram encontrados na quinta-feira, na cidade de Odabasi, na província de Hatay, no sul da Turquia, perto da fronteira com a Síria, na região mais afectada pelo terramoto.

Nas últimas horas, várias crianças têm sido retiradas com vida de debaixo dos escombros dos edifícios. Foi esse o caso de um bebé de 10 dias, resgatado depois de ter passado mais de 90 horas preso entre as ruínas de um edifício em Hatay.

Tamanho, flexibilidade e imaturidade favorecem crianças

Embora pareçam muito frágeis, o que se tornaria mais dramático perante uma tragédia das dimensões que a Turquia e a Síria vivem neste momento, na verdade, as crianças têm vantagens em situações como as presentes.

“Estão em vantagem porque são mais pequenos e cabem entre os destroços“, explica ao Correio da Manhã (CM) o comandante dos bombeiros de Algueirão-Mem Martins, Joaquim Leonardo. Assim, conseguem tirar partido do seu tamanho.

A flexibilidade dos seus pequenos corpos em formação é outra vantagem, ficando menos expostos a fracturas, como destaca Joaquim Leonardo.

Além disso, sendo mais imaturos, acabam por não ter tanta consciência do que se está a passar “e não ficam em estado de choque“, acrescenta o comandante.

Em Hatay, “não resta nada em pé”

Os especialistas defendem que as pessoas podem sobreviver durante uma semana ou mais debaixo dos escombros. Mas as hipóteses de encontrar sobreviventes, até perante as temperaturas negativas que se vivem, nesta altura, na região afectada, estão a diminuir.

O tempo médio que uma pessoa pode permanecer viva sem ingerir água ou comida em desastres como um sismo é de 72 horas, ou seja, três dias. O sismo foi há quatro dias.

As equipas de resgate lutam, assim, contra o tempo, enfrentando várias dificuldades no terreno.

Nunca vi nada assim. Na cidade onde estamos [Hatay], não resta nada em pé“, desabafa ao jornal espanhol El Mundo o grego Panagiotis, de 36 anos, que está integrado nas equipas de resgate em solo turco.

Os elementos destas equipas usam sensores de calor para procurar sobreviventes, mas o trabalho é moroso e faltam meios, nomeadamente máquinas para retirar os escombros dos edifícios.

As autoridades turcas referiram que mais de 120 mil equipas de resgate estão a participar nos esforços, com mais de 5.500 veículos, e a ajuda de 95 países, incluindo Portugal e Brasil.

Hospitais a “improvisar para desinfectar feridas”

Entretanto, os hospitais estão repletos e a sentir também a falta de meios.

A enfermeira Sude Yetmis que trabalha num hospital público na zona de Kahramanmaras, na área mais afectada pelo sismo, conta ao El Mundo que já “acabaram alguns medicamentos” e que têm estado “a improvisar para desinfectar feridas” e “para aliviar a dor dos pacientes”.

“O frio também não ajuda”, lamenta a enfermeira, notando que têm aparecido vários casos de pessoas em hipotermia.

A contagem dos mortos resultantes do sismo já vai em mais de 21 mil, incluindo 17.674 na Turquia e 3.377 na Síria. Mas o número vai continuar a aumentar porque continua a haver muitas pessoas desaparecidas.

O Governo de Recep Tayyip Erdogan, que visitou as cidades afectadas nos últimos dois dias, tem sido alvo de críticas devido a uma alegada resposta lenta à tragédia. Além disso, há quem lamente a falta de preparação do país que está numa zona de alta actividade sísmica.

Erdogan preparava a corrida à reeleição no sufrágio que deveria realizar-se a 14 de Maio. Mas, agora, o mais provável é que as eleições sejam adiadas.

A Organização Mundial de Saúde estima que o sismo afecte cerca de 23 milhões de pessoas, incluindo Síria e Turquia, considerando que estão “potencialmente expostas”, e teme uma grande crise sanitária que pode vir a causar ainda mais danos do que o terramoto.

As organizações humanitárias estão particularmente preocupadas com a propagação da epidemia de cólera que reapareceu na Síria.

ZAP // Lusa

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