Só não houve acidentes por “acasos excepcionais”. É esta a conclusão preocupante de um relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários que denuncia a existência de falhas graves no controlo aéreo em Portugal.
Este relatório não foi ainda divulgado, mas o seu conteúdo é revelado pelo Expresso, apontando, nomeadamente, a existência de dois incidentes graves recentes, no Porto e em Ponta Delgada.
Em Abril de 2021, “um Boeing 737 de carga, ficou a 300 metros na horizontal e a 150 metros na vertical da viatura aeroportuária Follow Me quando descolava do Porto rumo à Bélgica“, reporta o semanário, tendo em conta o relatório.
Já em Maio de 2022, houve um episódio semelhante em Ponta Delgada, nos Açores. “Um Airbus 321 da TAP foi autorizado a aterrar quando um Follow Me estava na linha direita da pista”, o que obrigou os pilotos “a ‘borregar’”, relata o Expresso, notando que o avião e a viatura “ficaram separados por 280 metros”.
Nestes dois episódios, “o acidente apenas foi evitado por acasos excepcionais”, aponta o documento.
Na altura, havia apenas um controlador na torre quando deviam estar no local mais quatro elementos, no Porto, e mais dois, em Ponta Delgada. Esses elementos em falta não se encontravam presentes porque “assinavam presenças fictícias no local de trabalho, que foram remuneradas”, destaca ainda o Expresso, citando o relatório.
Televisão “para passar o tempo”
O documento também evidencia que não eram respeitados os tempos de descanso obrigatórios, essenciais para manter a qualidade do controlo aéreo.
Além disso, o relatório vinca que, num dos casos, um controlador foi dispensado pelo seu supervisor porque, “ao residir nas proximidades, poderia, se necessário, ser chamado a qualquer momento”.
No incidente em Ponta Delgada, a controladora aérea que estava sozinha na torre, alegou, no processo de investigação ao incidente, que “estava ocupada a actualizar o ATIS (um sistema informático de informação), a analisar reservas de espaço aéreo” e “preocupada com duas aeronaves com trajectórias de aproximação convergentes, esquecendo-se de sinalizar que a pista estava ocupada pela equipa de manutenção e o seu veículo”.
O documento de 100 páginas que se encontra ainda sob sigilo, devendo ser publicado até ao final do ano, revela ainda a existência de uma televisão na torre de controlo aéreo do Porto “para ajudar a passar o tempo“. Além disso, os controladores podem usar os seus telemóveis pessoais e há ainda micro-ondas e máquinas de café nas torres que podem potenciar distracções.
O salário de um controlador aéreo é de 15 mil euros por mês.
Manuais desactualizados e contraditórios
O relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários deixa ainda críticas aos manuais da NAV Portugal – Navegação Aérea.
“A maioria dos conteúdos está na versão original publicada em 2006, com referências a regulamentações e organizações obsoletas”, salienta o documento, frisando que inclui “políticas, processos e procedimentos potencialmente desactualizados que foram estabelecidos há mais de 15 anos, levando a um ciclo cruzado de regulamentos e procedimentos, por vezes com informações contraditórias”.
A NAV Portugal garante que “continua totalmente empenhada e comprometida com a segurança operacional no âmbito da prestação de serviços de controlo de tráfego aéreo”, conforme comunicado divulgado pela RTP.
A entidade nota ainda que é “reconhecida internacionalmente como um prestador de excelência pelos seus pares, pelas operadoras aéreas e demais stakeholders”.
Assim, “reitera plena confiança no desempenho da sua missão, permitindo que as aeronaves descolem, sobrevoem e aterrem no nosso espaço aéreo e nos nossos aeroportos nas melhores condições de segurança”.
Mas isto é assustador!!! Apenas um controlador na torre quando deviam estar no local mais quatro. O que é que se passa, está tudo doido!
Então até a segurança dos aeroportos está em perigo por negligência!
Este pais está mesmo a saque..