//

Corrida aos combustíveis. A antecipar um “inverno difícil”, Reino Unido vai dar vistos temporários a camionistas

Adrian Dennis / AFP

A crise tem levado a filas e compras de pânico nas bombas de combustível

A falta de camionistas tem levado a filas nas bombas de combustíveis e entre 50% e 90% já estão vazias em algumas zonas do país. O governo vai dar vistos temporários a camionistas e está a ponderar colocar os militares a conduzir os veículos pesados.

Os motoristas escassam, e as preocupações dos ingleses crescem, principalmente com a falta de combustível que já se está a fazer sentir e com os muitos postos de abastecimento vazios devido à corrida às bombas de gasolina. Apesar dos apelos do governo à calma, as filas para as estações no fim-de-semana eram longas.

A BP já adiantou que quase um terço das suas bombas no país estão sem combustível e que alguns postos estão fechados. A Exxon Mobile relata uma situação semelhante.

“As falhas foram causadas por alguns atrasos na cadeia de distribuição que sofre os impactos de um problema mais vasto, de falta de motoristas. Estamos a dar prioridade às áreas de serviço nas autoestradas, às estradas mais frequentadas por camionistas e aos locais onde a procura é geralmente mais elevada”, afirmou a BP em comunicado.

A Associação de Distribuidores de Combustíveis avisou que já dois terços dos seus membros de quase 5500 postos independentes estão sem combustíveis, com os restantes “parcialmente secos e a ficar vazios brevemente”. O Reino Unido tem no total cerca de 8380 bombas de gasolina.

O grupo alerta também que entre 50% e 90% das bombas estavam vazias em certas partes do país, especialmente no sudoeste. “Precisamos de calma. Por favor não comprem em pânico: se as pessoas secam a rede então torna-se uma profecia que se auto-realiza”, apelou Gordon Balmer, director executivo da associação, à Reuters.

A situação caótica está a preocupar a quinta maior economia do mundo e há medo de que as disrupções e a inflacção dos preços se prolonguem até ao Natal. Estima-se que faltem cerca de 100 mil motoristas no Reino Unido, segundo a Associação de Transportes Rodoviários, tendo 20 mil condutores europeus saído do país depois do Brexit.

Um inquérito recente da mesma associação a 616 transportadoras apontou que as reformas dos camionistas e o Brexit estavam no topo da listas das razões por detrás da falta de condutores, já que muitos são da Europa de Leste e abandonaram o Reino Unido devido às regras mais duras para imigrantes.

O ministro britânico das Pequenas e Médias Empresas, Paul Scully, alertou no canal de televisão ITV para a possibilidade de “um inverno mesmo muito difícil para as pessoas”.

“Temos a noção de que isto vai ser um desafio e é por isso que não podemos subestimar a situação em que estamos”, afirmou. Já em declarações à Radio Times, o ministro voltou a repetir os apelos a que as pessoas não entrem em “pânico e desatarem a comprar“.

A crise levou a que o governo avançasse com a oferta de vistos temporários a 10 500 condutores e trabalhadores na produção de carne de aves para evitar mais quebras na linha de fornecimento antes das festividades.

O executivo de Boris Johnson tinha anteriormente negado a possibilidade de dar vistos a trabalhadores estrangeiros, mas voltou agora atrás na decisão.

Segundo o comunicado do governo, 5000 condutores de veículos de transporte de bens pesados e 5500 trabalhadores na produção de carne de aves foram adicionados ao actual plano de vistos até ao Natal para “aliviar as pressões na corrente de fornecimento de comida e nas indústrias de transporte durante as circunstâncias excepcionais deste ano”.

Também mais de 4000 pessoas serão treinadas para conduzir os camiões de forma a ajudarem a “enfrentar a falta de profissionais qualificados e apoiar mais pessoas a lançar carreiras no sector logístico”. Já quase um milhão de cartas vão ser enviadas a todos os condutores que têm as cartas de condução para os “encorajar a voltar à indústria”.

A proposta já motivou críticas por parte do líder Trabalhista Keir Starmer, que considera o número de vistos “muito, muito baixo” e afirma que são precisos cerca de 100 mil.

“Temos de emitir vistos suficientes para cobrir o número de condutores de que precisamos”, aconselhou Starmer, sublinhando que esta não é a “resposta ideal” e que serve apenas para resolver o problema a curto-prazo.

Starmer acusou também os ministros de “falta de planeamento”. “Sabíamos em particular que quando saíssemos na União Europeia que haveria a necessidade de um plano de reserva para lidar com a situação e não há nenhum plano do governo“, criticou.

O governo de Johnson admite também recorrer aos militares para fazer face à falta de condutores. “Se isso ajudar, vamos chamá-los“, avançou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, à BBC, afirmando também que não há falta de combustível e que a culpa da crise não é do Brexit, atirando a responsabilidade para a Associação de Transportes Rodoviários.

Estes anúncios surgem apenas dias depois do governo ter gasto milhões de libras para prevenir a falta de comida devido ao aumento dos preços do gás natural, o maior custo na produção de fertilizantes.

Outras indústrias como o processamento de comida, também foram afectadas. A maior rede de padarias do país, a Warburtons, confirmou que está a ter desafios no recrutamento de condutores e que a escassez está a causar problemas na distribuição. A empresa faz entregas para cerca de 18 500 lojas, mas não está a conseguir cumprir com todas.

“A escassez de condutores nacional continua a colocar pressão na rede de distribuição da Warburtons mas estamos a trabalhar duramente para manter um bom nível de serviço para os nossos clientes no país”, afirmou a empresa.

Adriana Peixoto, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.