Reino Unido “lamenta profundamente” o massacre de Amritsar. Mas nenhum pedido oficial de desculpas foi ainda feito

British High Commission, New Delhi / Flickr

O alto-comissário da Grã-Bretanha para a Índia, Dominic Asquith

O alto comissário do Reino Unido para a Índia, Dominic Asquith, entregou uma coroa de flores para comemorar o 100º aniversário do massacre de Amritsar, uma das piores atrocidades do regime colonial britânico. Cem anos volvidos, ainda não houve um pedido de desculpas oficial por parte do governo.

A 13 de abril de 1919, as tropas britânicas atiraram contra milhares de homens, mulheres e crianças na cidade de Amritsar, no norte do país. Registos da era colonial colocam o número de mortos em 379, mas os dados indianos apontam para aproximadamente mil mortes, revelou no sábado o Guardian.

Cem anos depois, a Grã-Bretanha ainda não fez um pedido oficial de desculpas e Dominic Asquith manteve a mesma postura, durante uma visita ao jardim de Jallianwala Bagh, onde marcas de balas do massacre ainda são visíveis.

“Pode-se querer reescrever a história, mas tal não é possível”, afirmou o alto comissário da Grã-Bretanha. “O que se pode fazer, como disse a rainha, é aprender as lições da história. Nunca nos esqueceremos do que aconteceu aqui”, reiterou.

No livro de visitas do memorial, Dominic Asquith – descendente de Herbert Asquith, primeiro-ministro de 1908 a 1916 -, classificou os eventos de “vergonhosos”.

“Lamentamos profundamente o que aconteceu e o sofrimento causado”, escreveu, repetindo comentários que a primeira-ministra britânica Theresa May fez quarta-feira no parlamento, quando também falou sobre o sucedido.

Cerca de 10 mil homens, mulheres e crianças reuniram-se naquele dia no jardim público de Jallianwala Bagh, em Amritsar, para celebrar um festival de primavera. Muitos ficaram com revoltados com a prisão de dois líderes locais, tendo a sua detenção provocado protestos violentos, lê-se no artigo do Guardian.

Como forma de controlar a revolta, o general Reginald Edward Harry Dyer, acompanhado com dezenas de soldados, fechou a saída e, sem aviso prévio, ordenou que se abrisse fogo. Enquanto os soldados disparavam, muitas pessoas tentaram escapar escalando os altos muros que cercam o jardim. Outros, atiraram-se a um poço que havia no local.

“Estavam lá montes de cadáveres, alguns de costas e outros com os rostos virados para cima. Alguns eram pobres crianças inocentes”, lembrou uma testemunha mais tarde. Reginald Edward Harry Dyer afirmou que o fogo foi ordenado “para punir os índios por desobediência”. Mais tarde, Winston Churchill, então secretário de Estado para a guerra, considerou a decisão “monstruosa”.

Numa visita em 2013, o então primeiro-ministro britânico David Cameron descreveu o que aconteceu como “profundamente vergonhoso”, mas não chegou a fazer um pedido de desculpas de oficial.

Em 1997, a rainha Isabel II colocou uma coroa de flores no local, mas o seu marido, o príncipe Philip, chamou a atenção da comunicação social ao indicar que as estimativas indianas para a contagem de mortes eram “muito exageradas”.

Na quarta-feira, Theresa May disse na Câmara dos Comuns que o massacre é “uma cicatriz vergonhosa na história da Índia Britânica”. “Lamentamos profundamente o que aconteceu e o sofrimento causado”, frisou. No entanto, não se desculpou.

Amarinder Singh, ministro-chefe do estado de Punjab, disse que as palavras de Theresa May não são suficientes. “Um inequívoco pedido de desculpas oficial” é necessário para aquela “barbárie monumental”.

Alguns jornais indianos também apontaram a necessidade de um pedido de desculpas. “Mesmo no ano do centenário do massacre, a Grã-Bretanha recusou-se a dar esse importante passo”, referiu o Hindustan Times.

TP, ZAP //

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