Reações adversas aos medicamentos afetam mais as mulheres. Já sabemos a razão

A investigação biomédica ajuda-nos a compreender a linha temporal das doenças e a forma como as podemos tratar. No passado, a maior parte foi conduzida em células masculinas e em animais, tais como ratos. Assumiu-se que os resultados de tal investigação se aplicavam também às mulheres.

No entanto, homens e mulheres vivem a doença de forma diferente. Isto inclui a forma como as doenças se desenvolvem, a duração e a gravidade dos sintomas, bem como a eficácia dos tratamentos, noticiou o Science Alert.

No caso dos medicamentos sujeitos a receita médica, as mulheres têm entre 50 a 75% mais reações adversas do que os homens. Isto faz com que muitos medicamentos sejam retirados do mercado devido a preocupações sobre os riscos para a saúde das mulheres.

Uma das argumentações é que as reações aos medicamentos nas mulheres se devem a diferenças no peso corporal e não a diferenças na forma como o medicamento trabalha no organismo.

Assim, acredita-se que se as doses forem ajustadas de acordo com o peso, as mulheres receberão frequentemente doses mais baixas do que recebem atualmente – o que pode aliviar as reações adversas.

Mas pode não ser esse o caso.

Numa nova pesquisa publicada recentemente na Nature Communications, os investigadores demonstraram que esse pressuposto básico na biomedicina não é suportado pela maioria dos traços pré-clínicos. É, portanto, pouco provável que as reações aos fármacos sejam atenuadas ajustando a dose ao peso.

Basear as decisões sobre a saúde das mulheres na investigação conduzida em homens – e vice versa – tem consequências potencialmente profundas. No caso das reações adversas aos medicamentos, os impactos são significativos tanto do ponto de vista clínico como económico.

Ficou igualmente demonstrado que as reações a medicamentos prolongam as internamentos hospitalares. Num estudo britânico de 2004 constatou-se que pacientes admitidos no hospital com uma reação adversa a um medicamento ficaram internados durante uma média de oito dias.

A Food and Drug Administration (FDA) já recomendou mudanças na dosagem para as mulheres em alguns medicamentos – dosagem ajustada ao peso parece funcionar no caso de alguns antifúngicos e medicamentos para a hipertensão.

Por outro lado, as reações estão fortemente ligadas ao que a medicamento faz no corpo das mulheres. Existem também muitas diferenças documentadas que relacionam a forma como os fármacos são absorvidos e eliminados do corpo.

Para se chegar ao fundo desta questão, é necessária uma abordagem em larga escala. A equipa utilizou um método aplicado em biologia evolutiva, conhecido como “alometria”, através do qual é examinada a relação entre um traço de interesse e o tamanho do corpo.

Os investigadores fizeram análises alométricas a 363 traços pré-clínicos em homens e mulheres, compreendendo mais de 2 milhões de dados do International Mouse Phenotyping Consortium.

A equipa analisou traços pré-clínicos – tais como massa gorda, glicose, colesterol LDL – em ratos, verificando diferenças nos géneros que não podem ser explicadas somente pela diferença no peso.

Alguns exemplos são traços fisiológicos – níveis de ferro e temperatura corporal -, traços morfológicos – massa magra e massa gorda -, e traços cardíacos – como a variabilidade do ritmo cardíaco.

Os investigadores constataram que a relação entre uma característica e o peso corporal variava consideravelmente em todos os traços examinados, o que significa que as diferenças entre homens e mulheres não podem ser generalizadas.

Esta complexidade significa que é necessário considerar, caso a caso, as diferenças de género para a dosagem de medicamentos.

De acordo com os investigadores, os resultados desta pesquisa podem ajudar a clarificar a natureza das diferenças entre os géneros e fornecer um caminho para a redução das reações aos medicamentos.

ZAP //

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