Reaberto inquérito para investigar ligações entre PJ e Doyen

Tiago Henrique Marques / Lusa

O inquérito que visava apurar as ligações entre a Polícia Judiciária (PJ) e a Doyen, no âmbito do processo de investigação a Rui Pinto, e que tinha sido arquivado, foi reaberto, indicou a Procuradoria-Geral da República (PGR) esta quinta-feira.

Fonte da PGR confirmou à agência Lusa que o inquérito “foi reaberto”, na sequência da extração de uma certidão do julgamento de Rui Pinto, criador do Football Leaks, remetida ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.

A notícia foi avançada pelo jornal Público, com este diário a explicar que o inquérito, que visa apurar eventuais irregularidades na cooperação entre o fundo de investimento Doyen e a PJ, tinha sido inicialmente arquivado.

O Ministério Público decidiu voltar a investigar aquelas alegadas ligações, inicialmente tornadas públicas por Rui Pinto, quando ainda se encontrava na Hungria, informações que passou à antiga eurodeputada Ana Gomes, quando esta o foi visitar na prisão, em abril de 2019.

A decisão de extrair certidão para investigar as ligações entre a PJ e a Doyen foi tomada na sessão de 10 de dezembro do ano passado, após declarações proferidas em julgamento pelo antigo advogado do fundo de investimento Doyen, Pedro Henriques, e inspetores da PJ.

Em causa está, por exemplo, uma troca de e-mails, em novembro de 2015, entre Pedro Henriques e o inspetor da PJ Rogério Bravo, na qual este tratava o colaborador de Nélio Lucas por ‘tu’ e em que chegou a enviar uma sugestão de requerimento para ser apresentada à Procuradora-Geral da República, cargo que na altura era ocupado por Joana Marques Vidal.

Segundo o depoimento de Pedro Henriques, a PJ chegou a indicar o nome de um jornalista à Doyen para poder servir como ‘ponto de contacto’ e passar a versão do fundo de investimento.

Numa outra sessão de julgamento, José Amador, outro inspetor da PJ, admitiu que Rui Pinto teria tido conhecimento do ofício entre esta polícia de investigação e os russos do operador russo Yandex – a pedir informações sobre a origem dos e-mails que eram trocados entre o administrador da Doyen, Nélio Lucas, e Rui Pinto (então ainda anónimo) –, a partir do computador de Pedro Henriques.

Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas, em local não revelado e sob proteção policial.

// Lusa

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